Enfeitiçada por um Deus

Há milhares de anos, o deus da Morte cortejou a deusa do Amor. Juntos, eles dançavam pelo céu noturno e pelo frio do inverno. Porém, ele a traiu quando levou sua irmã mais nova, a deusa da Colheita, para as terras sombrias do Reino da Morte, onde tomou sua virgindade. Com o coração cego de ciúme, a jovem deusa usou uma de suas flechas para acertar o coração da Morte, fazendo com que ele entregasse seu amor todo para ela. Porém, apesar de funcionar, a Senhora dos Deuses, mãe das duas irmãs, proibiu a Morte de se aproximar de qualquer uma delas, forçando-os a ficarem separados por toda a eternidade.

Sozinho em seu reino no Submundo, o deus começou a ressentir as irmãs por sua vida afastada, pois nenhum outro deus ousava aproximar-se dele como confidente e ele se viu solitário. Por centenas de anos, ele se deitava com mulheres humanas, dando a elas filhas com poderes divinos de ver e sentir a morte. Apesar de não saciar a fome de seu coração por ser amado, era a única saída para suprimir sua solidão.

Numa noite de inverno, quando achava que ninguém mais poderia se lembrar dele, ouviu orações desesperadas dirigidas a ele por uma voz doce que o capturou. Ao ver que a dona da voz era uma pequena garota triste, apareceu diante dela, dando-lhe o conforto que precisava. Entretanto, após esse breve encontro, a garota nunca mais rezou por ele e por muito tempo o coração do deus ficou novamente despedaçado, se sentindo traído mais uma vez. Por outro lado, a garota havia desistido de dirigir suas preces à ele após ser repreendida por seu pai, que não acreditava em suas palavras de que o deus da Morte a havia visitado durante a noite.

Por muitos anos, ela não rezou de novo, até que lhe ofereceu seu bem mais precioso em troca de sua liberdade das garras de seu pai e seu futuro noivo, não sabendo que tal prece a poria na presença da própria Morte novamente.

Capa: belyarts (Twitter/Instagram)