Me Observa, Me Possua

Jade aprendeu a caminhar despercebida, a existir sem ser notada em ruas iluminadas por postes quebrados e buzinas ao fundo. Ela sorri para os clientes, mente para si mesma e sobrevive entre café frio, pesadelos e lembranças que se recusam a morrer.

Mas as sombras nem sempre ficam para trás.

Mas agora, ela sente que não está sozinha. Há algo no ar quando tranca a porta, algo nos passos que ecoam tarde da noite, algo no reflexo que surge onde não deveria haver ninguém.

E esses olhos, esses olhos que parecem conhecer cada detalhe seu, cada falha, cada segredo que ela guardou mesmo de si mesma. O olhar que a segue pelas ruas, pelo trabalho, que a observa quando ela pensa estar sozinha, que a conhece melhor do que qualquer um jamais conheceu.

Talvez seja apenas paranoia.
Ou talvez seja o passado que insiste em retornar, em lembrá-la de quem ela foi, do que ela suportou e do que ela teme reviver.

Mas o medo começa a se misturar com outra coisa. Algo proibido. Algo queima na pele dela cada vez que sente aquele olhar, algo que faz o coração acelerar, algo que a faz se perguntar:

E se, no fundo, ela não quisesse fugir?

E se, no fundo, ela estivesse esperando ser encontrada?

Porque, às vezes, o maior perigo não é ser vista.
É desejar ser possuída.