DOCE JUSTIÇA - CONTO

Carlos tem 45 anos e carrega nas costas uma longa carreira como investigador da polícia de São Paulo, longa demais até para a própria memória. O cansaço se instalou como um velho hábito, e há anos ele apenas cumpre sua função no piloto automático, sem ambição, sem brilho. O ápice de sua carreira ficou para trás: foi ele quem, quinze anos atrás, desvendou a identidade do temido serial killer da João Dias, um caso que o colocou nos holofotes... e depois o lançou na sombra do próprio passado.

Mas agora algo mudou.

Uma nova sequência de assassinatos o arrasta para uma investigação estranhamente familiar. Os detalhes do caso ecoam os mesmos padrões de outrora, as pistas, os gestos, até os erros, como se alguém estivesse imitando o assassino que ele colocou atrás das grades. Ou pior: como se nada daquilo tivesse sido resolvido de fato.

Preso entre o que já viveu e o que se repete diante de seus olhos, Carlos se vê diante de um dilema perturbador. Estaria o passado de volta para corrigi-lo ou para assombrá-lo? Em meio a dúvidas, silêncios e espelhos distorcidos, ele precisa decidir se ainda é o detetive que todos esperam... ou se está apenas encenando o próprio fracasso.