Meu nome é Pietro.
E essa é a história que eu nunca tive coragem de contar pra ninguém.
Desde criança, eu e Heitor somos inseparáveis. A gente cresceu juntos, correndo pelos quintais congelados do interior do Canadá, dividindo cobertores nas noites de acampamento, inventando jogos e fugas para não encarar o tédio das tardes longas. As nossas famílias sempre foram unidas - tão próximas que, às vezes, eu me esquecia de onde a minha casa terminava e a dele começava.
Mas não é sobre o Heitor que essa história gira.
É sobre o irmão dele. Vinnie.
Vinnie sempre foi um universo à parte.
Três anos mais velho, já no último ano do ensino médio, ele tem esse jeito seguro, meio sarcástico, como quem já sabe de tudo antes mesmo da gente perguntar. Ele é legal com todo mundo - simpático, tranquilo, daquele tipo que parece nunca perder o controle.
Comigo, porém, era diferente.
Vinnie adorava implicar comigo. Sempre tinha um comentário ácido, uma provocação na ponta da língua. Às vezes me chamava de dramático, de certinho, de "grudado no Heitor". Mas, por algum motivo, eu nunca consegui ficar bravo. Porque por trás de cada implicância, havia um olhar que me desmontava. Um jeito estranho de atenção, que ele só parecia ter comigo.
Começou com irritação. Depois, confusão. E, de repente, virou algo que eu não sabia nomear. Só sentia. Forte. Silencioso. Incontrolável.
Enquanto Heitor e eu ríamos por qualquer besteira, eu me pegava olhando para o Vinnie. Esperando por qualquer frase, mesmo que fosse uma provocação. Guardando palavras que nunca consegui dizer.
Talvez essa história seja sobre amor. Ou sobre silêncio.
Ou talvez seja sobre a coragem que a gente precisa pra ser quem é... mesmo quando isso significa correr o risco de perder tudo.