Entre Linhas e Silêncio - Mirandy (Completo)

Três anos. Tempo suficiente para que os rostos mudem, para que os nomes subam e desçam como estações da moda. Tempo demais para alguém retornar. Tempo de menos para esquecer.

Miranda Priestly jamais permitiu a si mesma falar sobre Andrea Sachs desde Paris. Desde aquele instante, naquele carro, quando a jovem assistente olhou para ela - e virou as costas. Deixando-a sozinha na entrada de um dos eventos mais importantes da sua carreira. Sem aviso, sem perdão. Apenas o abandono.

Miranda não suplicava permanência, mas também não perdoava uma saída silenciosa.

E Andrea saiu.

Ela nunca soube dos sentimentos que Andrea guardava. Nunca desconfiou das noites em que a garota demorava demais a sair do escritório, ou dos olhares ligeiramente longos demais nas manhãs frias. Miranda não sabia - ou fingia não saber - porque, no fundo, sentia que Andrea nunca ficaria. Que, mais cedo ou mais tarde, ela escolheria partir.

Mas Miranda sabia de outras coisas. Sabia, por exemplo, que Andrea Sachs agora era uma jornalista premiada. Que traçou um caminho brilhante na moda com sua própria assinatura, admirada por muitos, celebrada por outros tantos. Miranda nunca disse isso em voz alta, mas sabia de tudo. Sempre soube.

A porta se abriu.

Não foi um sonho. Andrea estava ali, atravessando o mesmo corredor de onde havia sumido há sete anos. Os cabelos mais curtos, o andar mais firme, os olhos com aquele brilho que Miranda conhecia bem - o brilho de quem não vinha apenas por uma visita.

Miranda não ergueu as sobrancelhas. Não desviou o olhar. Mas por dentro, cada célula sua pulsava com a brutal lembrança de Paris. De estar sozinha, pela primeira vez, e sentir a ausência como uma presença cruel.

A pergunta que pairava agora, invisível e imensa, era simples demais para o caos que trazia:

Por que ela voltou?

E, talvez mais cruel:

Por que agora?

Dedicado a todas que já amaram - ou ainda amam - uma mulher mais velha.