Capítulo 1 - Bom dia com gosto de bagunça
O sol mal tinha espiado pela janela quando um latido animado sacudiu a tranquilidade da casa.
- POTATOOO! - gritou Caleu do quarto, rindo alto enquanto o buldogue gordinho e preguiçoso pulava em cima da coberta, com a língua de fora e o rabinho balançando.
Na cozinha, Erica já estava de pé, com o cabelo preso em um coque malfeito e uma caneca de café na mão. Mesmo sonolenta, sorriu ao ouvir a gritaria da sala.
- Bom dia, minha gente! - disse ela, com a voz animada de quem sabia que ia passar o dia correndo atrás de criança, brinquedo e cachorro.
- Mãe, olha o Potato lambendo meu pé! - Elisa apareceu com sua blusinha de raposinha e os cabelos dourados desgrenhados de sono. - Ele tá com fome ou com saudade?
- Ou os dois! - respondeu Kleiriston, que apareceu logo depois, coçando os olhos e tropeçando em um carrinho de brinquedo abandonado no corredor. - Essa casa devia ter placas de "perigo: brinquedos espalhados".
- Ou "perigo: amor demais" - respondeu Erica, piscando para ele.
Na mesa do café, Caleu falava com a boca cheia de pão, Elisa tentava colocar um lacinho no Potato (que estava mais interessado na manteiga) e Erica cortava frutas enquanto Kleiriston tentava organizar o caos que era a mochila de brinquedos que os dois queriam levar pro parque mais tarde.
- Família, vamos fazer um combinado hoje? - disse Erica, erguendo uma banana como se fosse um microfone. - Nada de brigar por quem segura a guia do Potato, tá bom?
- Tááá... - disseram os dois em coro, mesmo que soubessem que iam brigar sim.
Naquela casa onde nunca dava tempo de dobrar as roupas direito, onde tinha sempre uma meia perdida e algum brinquedo boiando na privada... o que nunca faltava era amor.
E mesmo que o espaço às vezes parecesse pequeno pra tanta energia, o coração deles era grande o suficiente pra caber todo mundo - com bagunça, lambidas e muito carinho.
continua...
Minatozaki Sana tem vinte anos, zero foco e um talento raro para adiar a própria existência. Faculdade? Talvez ano que vem se não repetir pela terceira vez. Emprego? Quem sabe depois. A única rotina que ela segue com dedicação é a de reclamar com a melhor amiga, Dahyun, sobre como o mundo exige demais de uma garota que mal consegue subir uma escada sem parecer que correu uma maratona.
O que ninguém sabe é que, desde a primeira vez em que dormiu na casa de Dahyun, Sana se apaixonou pela mãe dela. Chou Tzuyu. Uma mulher de trinta e sete, personal trainer, casada, elegante até pra repreender o tempo. Uma mulher que parece feita sob medida pra desmontar qualquer tentativa de indiferença.
Quando Dahyun comenta que a mãe está aceitando alunas novas, Sana decide "mudar de vida". Ou pelo menos fingir. Afinal, o que poderia dar errado em suar na frente da mulher que ela ama desde os treze?
Tzuyu é o oposto de tudo o que Sana consegue ser: disciplinada, calma, dona de um corpo e de uma autoridade que fazem até os equipamentos ficarem em posição de sentido. E enquanto tenta ensinar uma adolescente desastrada a fazer uma simples prancha, acaba sem saber que virou o epicentro de um colapso hormonal cuidadosamente disfarçado.
Entre halteres, respirações erradas e pensamentos indecentes, Sana descobre que amadurecer talvez envolva bem mais do que decidir o curso da faculdade. Principalmente quando a lição mais difícil vem da mãe da sua melhor amiga.