Flores em meio aos espinhos 1

Prólogo

O tilintar do sino da pequena capela ecoava pelo vale, um som melancólico que se perdia entre as árvores retorcidas pelo vento. O céu, de um cinza opaco, parecia chorar junto com as poucas almas que se reuniam ali, sob a chuva fina e persistente. Uma lápide de mármore branco, recém-polida, brilhava friamente em meio à grama molhada. Ana. O nome gravado ali parecia gritar no silêncio, um lembrete cruel da vida ceifada cedo demais.

Arthur, de pé, sob um guarda-chuva escuro, sentia o peso do mundo sobre seus ombros. O terno preto parecia apertá-lo, sufocá-lo. Seus olhos, antes cheios de vida, agora eram poços de dor e incompreensão. Ele segurava a mão de Miguel, seu filho mais velho, já conhecia a crueldade da perda. Bernardo, o caçula, nos braços da avó, Dona Laura, chorava baixinho, sem entender a gravidade do momento, apenas sentindo a tristeza que pairava no ar.

"Eu sinto muito, meu filho", Dona Laura sussurrou, apertando o braço de Arthur. Mas as palavras eram vazias, incapazes de preencher o vazio que Ana havia deixado.

Arthur olhou para o caixão, que descia lentamente à terra. A imagem de Ana, sorrindo, dançando, vivendo, se misturava com a visão dela no leito de morte, pálida, inerte. A dor era física, um nó na garganta que impedia a respiração, um aperto no peito que ameaçava esmagá-lo.

Ele ouviu os sussurros, os olhares de pena, as frases feitas. "Era tão jovem." "Uma tragédia." "Deus sabe o que faz." Mas Arthur não acreditava em destino naquele momento. Acreditava em uma injustiça brutal, em uma vida roubada cedo demais.

Longe dali, em um apartamento elegante com vista para a cidade, uma mulher observava a chuva pela janela. Seus dedos finos tamborilavam ritmicamente no vidro embaçado. Um sorriso quase imperceptível brincou em seus lábios, um sorriso que não alcançava seus olhos. Eles eram frios, calculistas, observando o mundo como um tabuleiro de xadrez. Ela não sentia a tristeza daquele dia.