ASSOMBRADOS

Dizem que é na claridade que tudo se revela. Que é no dizer que se é ouvido.
Mas, para mim, foi diferente. Minha verdade nasceu na escuridão - o único lugar onde sempre me senti confortável e verdadeiramente livre.

Quero ser vista por olhos tão atentos e obcecados que, mesmo no breu, consigam me enxergar. Quero ser ouvida no silêncio, quando minhas palavras não existem, mas ainda assim meu grito é percebido.

Foi no escuro do silêncio que ele me notou. Não precisei falar muito. Não precisei me expor demais. Ele me ouviu quando eu não disse nada. E, naquele instante, eu me libertei.

Perdi medos. Soltei vergonhas. Descobri que, no escuro, eu me encontrei.

Na sociedade em que vivemos, os desinibidos e chamativos costumam se sobressair sobre os tímidos. Mas aqui não. Aqui, ouviremos as vozes daqueles que quase nunca se expõem - suas dores, medos e sentimentos. Aqui, a realidade revela como o confiante se tornou assim: os traumas, as feridas e o processo que o moldaram.

Esta não é uma história para quem vive gritando para ser mais alto que todos. É para nós - os silenciosos, os que quase nunca são notados, os que têm pensamentos que raramente chegam à superfície. Para aqueles que, quando finalmente encontram alguém que os ouve, se atropelam em palavras desconexas de tanta empolgação.

É para que nós também sejamos vistos - não como algo estranho, errado ou motivo de piada - mas como vozes que importam. Mesmo no escuro.