Em Jericho, Vermont, de noventa e dois,
O céu em luto, as nuvens sem vez.
Denso véu que a noite quis guardar,
O crepúsculo, cinzento, a pressagiar.
Pelos pináculos que a névoa agarrava,
A Nunca Mais a sombra elevava.
Não um castelo, mas esqueleto em pedra,
Gárgulas disformes, onde a malícia medra.
Cheiro de mofo, musgo, melancolias,
Nos jardins secos e nas arquiteturas frias.
Lá dentro o negrume respirava e ecoava,
A escuridão que os passos engolhava.
Em vitrais gastos, sem santos ou luz,
Só criaturas que a sombra conduz.
Feita aos excluídos, para quem não tem lar,
A Nevermore segredos quis guardar.
A torre do relógio, agulha no ar,
Sombra total que a névoa quer tocar.
O bronze do carrilhão, mudo, coberto,
Guarda o lamento que ninguém tem descoberto.
O sino, calado, um réquiem cantou,
A dor de Isaac que o tempo levou.
O vento sopra, um assobio de dor,
Eletricidade, presságio, terror.
O relógio, enfim, pulsa e não falha,
Em um "Tic-Tac" que a alma retalha.
... KA-BOOM!
A torre em cinzas, o vidro no chão,
Gritos na noite, espanto, confusão.
No pó, com fumaça e queimado a feder,
Gomez e Morticia no choque a sofrer.
E lá no rastro denso, um milagre irreal,
A Mão surge, do metal e do mal.
"Ó, lua nobre, por que te cobriste?"
Para não ver o anjo que resiste.
Teu manto chora, em chuva que cai,
Lá onde a capela em silêncio jaz.
Abandonada, ancestral, em véu sepulcral,
Hera e musgo em sua dor final.
E no chão, um buraco, passagem fatal,
A escada em espiral, ferro e metal.
Gira e desce, a ferrugem a gemer,
O frio e o medo a alma a crescer.
Até o fundo, onde a escuridão reina,
A umidade, a rocha, a pena.
A sala é um túmulo, o ar é pesado,
E um ser cativo, ajoelhado e acorrentado.
O peito magro, a costela em prova.
E em suas costas, o horror se revela:
Dois buracos fundos, a carne em sequela.
Suas asas magníficas, com sangue e com dor,
De Az foram tiradas, em nome de um erro maior.
Pois era heresia, em sua