A filha da discórdia

Movida pelo peso da solidão, Neres moldou um mundo onde seria venerada por todos. Durante longos séculos conseguiu preservar a harmonia de sua criação, até que Íris, a deusa da discórdia, tomada pela inveja daquele paraíso imaculado, desceu sobre ele trazendo o caos e a ruína. Sua presença corrompeu corações, e muitos que antes se curvavam diante de Neres voltaram-se contra ela, jurando lealdade à deusa da desordem. Assim teve início uma guerra sem fim, um conflito eterno que manchou de sangue aquilo que um dia fora perfeito.

Rafaella, por sua vez, era apenas uma criança, habitante de um pequeno vilarejo pertencente a um reino mergulhado em decadência sob o jugo de um novo rei cruel. Sua ganância arrastara a nação à falência, e, diante da miséria que assolava a todos, o povo do vilarejo ousou erguer-se em rebelião. Mas a esperança foi esmagada pela brutalidade: derrotados, tornaram-se alvo da fúria real. Consumido pelo ódio, o rei ordenou que o vilarejo fosse reduzido a cinzas. No desespero, os pais de Rafaella esconderam a filha, na vã tentativa de arrancá-la das garras da destruição que se aproximava.