A Lenda da Fera da Montanha
Nos tempos da Idade Média, em meio a uma era de fé e medo, uma pequena vila floresceu aos pés de uma montanha eternamente coberta de neve. As casas, feitas de pedra e madeira, soltavam fumaça pelas chaminés como se tentassem aquecer o coração do inverno. Ao redor, uma floresta antiga se erguia, densa e silenciosa - guardiã de um segredo sombrio.
Dizia-se que ali, entre árvores retorcidas e sombras que sussurravam ao vento, vivia uma fera amaldiçoada: um lobisomem, condenado a vagar sob o luar por pecados esquecidos.
Foi nesse cenário de frio e superstição que nasceu Beatrice Guerra, uma jovem de olhos curiosos e espírito livre. Ela cresceu ao lado de Piter, seu melhor amigo - um rapaz bondoso que dominava a arte da caça e do ferro. Desde pequenos, corriam juntos pelos bosques cobertos de geada, rindo entre o estalar dos galhos e o cheiro da terra molhada.
De Piter, Beatrice ganhou suas botas de couro, feitas à mão. De sua avó, um capuz cor de carmim, bordado com rosas silvestres, presente dado em um de seus aniversários mais frios - o tipo de inverno em que até o sopro do vento parecia cortar a pele.
Mas a paz não durou. Pouco tempo depois, a saúde da avó começou a definhar, e Beatrice sentiu o primeiro chamado da estrada.
Enquanto a neve caía sobre os telhados da vila e os sinos da igreja ecoavam ao longe, algo despertava nas profundezas da floresta - algo que a observava, esperando o momento certo para se revelar.
E foi então que a jornada de Beatrice começou.
Entre a inocência e o medo, entre o calor do amor e o frio da maldição, ela descobriria que nem todas as feras vivem nas sombras - algumas nascem dentro de nós.