A Canção da Carpa e da Lótus

Sob o véu do Céu Imortal, onde os ventos sussurram segredos às montanhas e os rios guardam memórias de eras esquecidas, duas princesas nasceram em reinos opostos - uma sob a luz da lua dourada. a Carpa Dourada, que nada contra a corrente do destino; outra sob a luz do sol dourado a Lótus Dourada, que floresce mesmo nas águas turvas da dor.
Ambas eram filhas da eternidade, moldadas pela quietude dos deuses e pela dança das constelações. Mas o destino, com sua pena de jade e tinta de saudade, escreveu que seus corações não pertenceriam ao céu. E assim, desceram ao mundo mortal, como estrelas caídas, para viverem uma história que nem os sábios ousariam prever.
No mundo dos homens, onde o tempo é breve e o amor é provado pelo sofrimento, elas se encontraram - não como princesas, mas como almas errantes. Seus olhares se tocaram como brisas num campo de bambu, e seus corações reconheceram um eco antigo, como se o universo tivesse guardado aquele instante por milênios.
Mas o amor entre a carpa e a lótus é proibido pelas leis do céu. E como todo amor que desafia o ciclo das estações, foi marcado pela tragédia. Separadas por guerras, por deveres, por lágrimas que não podiam ser enxugadas, elas vagaram por caminhos distintos, cada uma carregando a ausência da outra como uma cicatriz invisível.
Até que, num entardecer onde o céu tingia-se de ouro e sangue, reencontraram-se. Não como antes, mas como mulheres que haviam sofrido, aprendido, e renascido. E nesse reencontro, não apenas mudaram suas histórias - quebraram o ciclo do destino, reescrevendo com suas próprias mãos o que os deuses haviam decretado.
A carpa deixou de nadar contra a corrente. A lótus escolheu florescer fora do lago. Juntas, tornaram-se lenda, não por terem vencido o mundo, mas por terem vencido a si mesmas.