Cento e dois anos antes da Dança dos Dragões, antanho de príncipes despencando do céu e sendo engolidos pelas presas da Morte, sob o reinado do rei Jaehaerys I Targaryen, a Fortaleza Vermelha foi palco de um dos maiores mistérios e sumiços de Westeros.
A misteriosa Casa Di Natrye tinha seu grande lema: "O que a Seiva Semeia, o Olho colhe." Ninguém além dos seus sabia o que tal frase queria dizer, mas todos concordavam que esse perigo simbólico poderia expressar os segredos sombrios que suas íris escuras mantinham a sete chaves.
Assassinada por mãos calejadas, rodeada pelo calor das labaredas e o cheiro pegajoso de maresia, no ano 55 d.C., a filha mais nova dos Di Natrye descobriu a verdade sobre sua Casa e encontrou uma determinação rancorosa no que deveria ser seu único fim. Com a alma pendente no mundo tangível e inalcançável dos vivos, a jovem de cabeleireira ruiva, sapatilhas nos pés, olhos tão profundos quanto a perdição do abismo e um coração inanimado soube o que, sob chaves forjadas pelos Primeiros Homens, havia uma última coisa que precisava fazer para que o céu ou as chamas finalmente a recebessem.
Com as lendas correndo por entre seus ossos, Nicádia, mesmo somente uma névoa esbranquiçada de dor e rancor, tinha uma missão que vingaria seu homicídio oculto e tal envolvia um coração puro e saudável da mesma família que a deixou apodrecer. Um Velaryon.
Quando o príncipe Lucerys Velaryon, o jovem 'invisível' de olhos azulados e dedos ansiosos dedicados à música, regressou de Pedra do Dragão e foi o único a ver sua sombra de Morte e cachos flamejantes no canto do Salão, aquela fantasma centenária e esquecida pela Vida soube que encontrara quem deveria pagar por seu sangue.
Nicádia Di Natrye só não esperava que aquele príncipe pudesse tocar uma valsa que faria seu coração inanimado, depois de anos preso às garras do fim, querer dançar uma última vez.
• annalizie, 2025.