- Escutem, não quero parecer muito grosseira ou algo assim, mas não acho que seja bom vocês ficarem comentando sobre algo tão pesado quanto um desaparecimento dessa maneira. As pessoas escutam... e os espíritos também.
- Espíritos? - Rodrigo perguntou, curioso.
Raquel assentiu e apontou para o colar em seu pescoço.
Ela contou que aquele colar havia pertencido a sua bisavó, há muito tempo atrás, mas não era um colar qualquer, mas sim de ametista. O colar de ametista era um símbolo de proteção que - em teoria - deveria repelir todo espírito maligno que ousasse se aproximar dela e de outras pessoas. No entanto, ela contou também, que desde o dia anterior, quando ela e seus pais haviam se mudado para aquela cidade, e hoje de manhã, quando teve o seu primeiro dia de aula, Raquel sentiu um clima muito pesado e estranho em todos os corredores.
As pessoas pareciam fracas, não só fisicamente, mas espiritualmente, como se tivessem tido suas energias sugadas. As tias da cantina e da faxina pareciam muito mal humoradas, a maioria dos professores eram secos e ríspidos, e os poucos alunos que ela tinha feito amizade e que pareciam ser gente boa, falavam tão baixo que era quase impossível escutá-los. E depois que falavam, olhavam para os lados, parecendo tensos e receosos, como se sentissem que tinham falado demais e que algo ou alguém estivesse os escutando, mesmo que estivessem falando de coisas bobas como matérias da escola ou filmes.
Ana e Rodrigo ficaram claramente pensativos e em choque com aquelas palavras. Então, Ana disse - com muito tato para não ofender a religião da menina - que tinha dúvidas se acreditava naquela conversa ou não. Raquel não pareceu se importar, ela deu de ombros e respondeu:
- Sendo bem sincera? Não me importo que não acreditem, não estou tentando convencer vocês de nada, só estou avisando: tomem muito cuidado. Parece que há algo nessa escola, algo... esquisito.