Este livro não é sobre o crime.
É sobre a vida - a vida que pulsa nas vielas, nos becos, nas lajes quentes e nas madrugadas de sirene.
É sobre o povo que acorda cedo, que pega dois ônibus e um trem, que trabalha, que cria filho, que sonha - mesmo quando o sonho parece proibido.
Muita gente fala das favelas sem nunca ter pisado em uma.
Falam do "risco", da "violência", da "guerra".
Mas quase ninguém fala da dor de perder um vizinho, da força de quem ajuda o outro com o que não tem, da mãe que reza o dia todo pra o filho voltar vivo, do menino que pinta um muro pra esquecer o barulho dos tiros.
As favelas do Brasil não são só o Rio.
Estão em São Paulo, em Salvador, em Belo Horizonte, em Recife, em Porto Alegre.
Cada uma com seu nome, seu sotaque, seu jeito, mas todas com a mesma luta: ser respeitadas como parte do país.
Quando uma operação acontece - como a que matou mais de cento e vinte pessoas no Complexo da Penha e do Alemão - o que fica pros jornais são números.
Mas números não choram.
Quem chora são as famílias, as mães, os amigos, os vizinhos.
Quem sente o medo são os que vivem lá, e não têm pra onde correr.
Este livro é pra eles.
Pra quem é julgado antes de ser ouvido.
Pra quem é chamado de "bandido" só por ter um CEP errado.
Pra quem vive onde o Estado só aparece com fuzil, mas ainda assim planta esperança no meio do caos.
Aqui não tem herói nem vilão.
Tem gente.
Gente que erra, acerta, ama, sonha e luta pra sobreviver num país que insiste em fingir que eles não existem.
Que este livro sirva pra abrir olhos, tocar corações e, principalmente, dar voz a quem foi silenciado.
Porque, no fim das contas, a favela não é problema.
A favela é o espelho do Brasil.