Primeiro Dia
Meu nome é Luan, tenho 18 anos (quase 19), e nunca imaginei que passaria a véspera do meu aniversário dentro de uma fábrica de embalagens.
Mas é isso: vida adulta chega, você acha que vai estar cheio de planos, e de repente tá colocando um uniforme azul, crachá torto e tentando fingir que não está nervoso.
Eu sou... como posso dizer?
Um cara quieto, magro - não fraco, só não forte - cabelo preto meio bagunçado, pele morena clara, e olhos que todo mundo diz que parecem "de quem está sempre pensando em alguma coisa".
Talvez seja verdade.
Penso demais.
E tem outra coisa sobre mim.
Eu sou gay. Ou... quase assumido. Estou me descobrindo ainda.
Não conto pra muita gente. Aqui na fábrica, então, nem pensar. O pessoal é meio bruto, fala alto demais, e às vezes parece que se enxerga gay dentro de alguém eles quebram a máquina por engano.
Então guardo pra mim.
Sempre guardei.
Era meu primeiro dia no setor de corte.
Respirei fundo, tentando não parecer perdido.
Foi aí que ouvi:
- Você deve ser o Luan.
A voz era grave, baixa. Quando virei... foi quase ridículo o tanto que meus olhos demoraram pra entender o que estavam vendo.
Um cara alto, uns 20 anos, corpo definido do jeito natural de quem trabalha carregando caixas e mexendo com máquinas. Cabelo castanho escuro caído na testa, mandíbula marcada, e olhos claros - não de cor absurda, mas daquele tipo que parece ver tudo com calma.
Ele segurava um par de luvas e tinha um sorriso curto, bonito, que mostrava só um canto da boca.
- Sou eu - respondi. - Você é...?
Ele estendeu a mão.
- Rafael. Vou te treinar hoje.
Toquei a mão dele e por dentro...
Meu coração deu um soco no meu peito.
A mão dele era quente. Firme.
Eu queria soltar rápido, mas ao mesmo tempo não queria.
- Vem comigo - ele disse.
Andamos pelo setor, e ele me mostrava as máquinas enquanto eu tentava prestar atenção.
Tentava.