Grýla desceu das montanhas, e com ela desceu o frio que quebrava ossos. Não se parecia com a ogra disforme dos antigos pergaminhos, mas sim com uma rainha exilada, cuja beleza era mais perigosa que a feiura.
Seus cabelos eram neblina congelada, e o vestido escarlate, rasgado na barra, parecia ter sido costurado com a própria sombra. Ela caminhava pelo vilarejo adormecido sob o céu verde e fantasmagórico da Aurora Boreal. O sorriso... ah, o sorriso dela era a pior parte. Um sorriso largo demais, cruel demais, iluminado por olhos que ardiam com o fogo tóxico do gelo derretido.
Em uma mão, ela agarrava o Cajado da Estrela, um galho nodoso encimado por uma estrela púrpura que pulsava lentamente, marcando cada casa onde a desobediência fermentava. Na outra, arrastava o Saco de Ingredientes, não mais um saco de estopa, mas sim uma trouxa de couro negra e úmida, pesada com a promessa de almas jovens.
Seu nariz, fino e reto, se movia no ar gelado. Ela não cheirava a pinho ou chocolate quente, mas sim a metal queimado e especiarias de um guisado que estava quase pronto. Ela não procurava por presentes para dar. Ela procurava por um ingrediente em particular.
E o cheiro de travessura... era o cheiro do banquete.