Neste instante, a economia do desejo se completa: você deu sua umidade, sua complexidade, seu medo. Ele deu seu calor, sua aspereza, seu silêncio. Ambos falidos. Ambos reduzidos a uma verdade biológica simples, salgada e quente.
É um desejo obsceno porque não é por união, mas por colonização. Por ser transformada, através daquele calor e daquela aspereza, em algo menos humana e mais real, uma criatura de nervos expostos e pulsação animal, que aprendeu, na cama de pedra imaginária desse cangaceiro, que a volúpia mais profunda não está no carinho, mas no reconhecimento mútuo de que ambos são, no fundo, bestas de carga do próprio destino, e que, por um instante, podem descarregar esse fardo no corpo um do outro, com uma fúria e uma verdade que deixam marcas mais profundas e mais duradouras que qualquer promessa de amor.