𝓜𝔂 𝓓𝓪𝓻𝓴 𝓗𝓮𝓪𝓻𝓽

Ela o odeia com cada fibra do seu ser. Eles se desejam de forma proibida e, por isso, se odeiam com igual intensidade. Guardiões de si mesmos, escondem segredos cruciais um do outro. Um acordo frio os une, forçando uma proximidade que os tortura.

Sua história é um caminho conturbado e decepcionante. Houve um tempo em que os pulsos aceleravam um pelo outro, mas escolhas egoístas os arrancaram para lados opostos. Ela ficou para trás, com o coração em farrapos, um ódio negro e fervente tomando conta do vazio. Ele seguiu, carregando sombras e um arrependimento que corroía sua alma. Até que a felicidade da melhor amiga a levou a conhecer o grande amigo do namorado. O mundo parou. Ela se recusou a acreditar, mas ali estava ele. Estático, diante dela, com um sorriso sarcástico estampado no rosto, como um desafio. Uma onda de ódio puro, tão quente e amarga, subiu-lhe pela garganta. Jurou, então, com ferocidade, banir sua presença de qualquer horizonte seu. Mas o amor pela amiga falou mais alto, um laço que seu rancor não conseguia romper.

E ele?

Ao vê-la, o tempo desmoronou. Foi atingido pela mesma sensação avassaladora do primeiro encontro, multiplicada pelos anos de ausência. Se perdeu nos seus olhos castanhos, um turbilhão de memórias. Se fixou nos seus lábios, agora um portal para um passado que o assombrava e o atraía.

Por que ela estava ali? A razão não importava. Seu antigo amor, sua eterna obsessão, estava a um alcance de braços. Uma fome primitiva surgiu, um desejo profundo e incontido de dominá-la, de envolvê-la em seus braços e puxá-la com força para perto. Precisava recapturar seus lábios, devorá-los, redescobrir se o sabor ainda era o mesmo doce que atormentava seus sonhos.

Ele não a deixaria escapar outra vez, um erro que definiu anos de arrependimento.
Jamais cometeria o mesmo erro outra vez. Porque, mesmo que seu coração fosse um lugar de sombras, ele ainda batia. E cada batida, surda e obstinada, pertencia a ela