Luxemburgo, inverno de 1998 para 1999. Às vésperas do último ano do ensino médio, Matteo vive um período de suspensão silenciosa. Criado em uma família profundamente religiosa, ele cresceu aprendendo a cumprir rituais sem jamais se sentir verdadeiramente pertencente a eles. O Natal, antes carregado de encanto, tornou-se apenas repetição. O inverno, refúgio temporário.
A rotina de Matteo começa a se romper quando ele conhece Wilhelm, um garoto reservado que cruza seu caminho de forma aparentemente banal. A aproximação entre os dois não se constrói por grandes acontecimentos, mas por silêncios, olhares e uma intimidade que surge sem aviso. Diante desse sentimento inesperado, Matteo reage com negação. O desejo entra em conflito direto com a educação religiosa, com as expectativas familiares e com a imagem de si mesmo que ele aprendeu a sustentar.
Ambientada em um momento anterior à popularização de celulares e redes sociais, a narrativa se desenvolve no tempo da espera, do desencontro e do pensamento excessivo. Cada decisão de Matteo é atravessada pela tentativa de fuga e, ao mesmo tempo, por impulsos que o levam sempre de volta ao mesmo ponto. A sexualidade emerge primeiro como culpa, depois como urgência, e por fim como algo impossível de ser ignorado.
Entre festas que não aliviam, domingos marcados pela rigidez da fé, noites solitárias e caminhadas sem destino, Matteo atravessa um processo doloroso de autopercepção. A busca por Wilhelm se disfarça de acaso, enquanto o medo de se assumir cresce dentro de casa e dentro de si.
Mais do que um romance, a história acompanha o colapso lento de uma negação. Um relato íntimo sobre crescer, desejar e sobreviver em um mundo que exige silêncio justamente quando tudo começa a gritar.