Outra noite em que Melía está acordada por causa de um pesadelo. Ou pela insônia que insiste em repetir pensamentos dolorosos: ela acha que nunca vai superar, que as feridas e a violência daquele dia acontecerão sempre. Sempre que sair de casa, ou que alguém tentar se aproximar dela.
Os assédios na rua, os perigos diários que ela sempre fora ensinada a prestar atenção e todos os medos que a sociedade impôs no momento de seu nascimento. Todos eles se tornam exponenciais. Pequenas trocas de olhares na rua, desconhecidos seguindo seus rumos e os detalhes de sua própria vida. Tudo parece se tornar gatilho para os ataques de pânico. Para que o medo do medo a possua e a paralise.
E quando nada acontece, quando um dia começa sem que a dor das lembranças a penetre, é aí que o terror aumenta. Nada mais parece natural. Nada mais parece poder voltar ao normal.
Os olhos verdes de Alice, o outono, seus irmãos - onde há conforto há também manchas vermelhas das feridas abertas. Melía só queria seguir, ainda que não soubesse para onde. A teoria do caos, o acúmulo de "e se", as sessões de terapia, as lembranças do pai falecido, de canções agridoces, os exercícios para ajudar a lidar com as marcas deixadas pelo trauma -nunca houve perfeição em sua vida, mas agora ela precisa reaprender a dividir o peso em suas costas. Porque, afinal, quando se chega ao fim da linha é que se recomeça.
Através das memórias da infância e adolescência de Melía e suas recentes lembranças do trauma, Recomeçar conta como ela foi capaz de, aos poucos, perdoar a si mesma e se reconectar com as pessoas importantes, assim como se reintegrar no convívio social. É uma história de luta por todas as coisas que Melía ainda pode, e quer, viver.
"E como na teoria do caos, aquela noite, e todas as pequenas decisões que eu tomei criaram uma nova versão para os nossos futuros."
AVISO: Contém cenas de estupro/tentativa de suicídio. Respeitem seus limites e o autocuidado.Todos los derechos reservados