Colocava os seus sapatos favoritos. Sairia para comprar ovos pela primeira vez. A mãe deu-lhe uma blusa de lã, beijou-lhe a testa e pediu para que não demorasse.
- Olhe lá, hein, bambina, não vá quebrar os ovos - advertiu, despedindo-a do portão.
A pequena era só sorrisos. Fariam um bolo assim que chegasse.
- Demorarei o suficiente, nem um segundo a mais nem a menos! - exclamou a garota depois de se voltar para a matriarca.
Já era bem grandinha, pensou, estufando o peito e acelerando o passo. Poderia muito bem ir ao mercado sem a companhia de um adulto. Era uma mulher! mais alta que Pietro, o coleguinha "nanico" da sala de aula. "Será que a mãe de Pietro o deixa ir ao mercado sozinho?", perguntou a si mesma. "Claro que não, ele não é gente grande!", concluiu com prazer.
"Oh, meu Deus!", pensou de repente. "E se um mendigo me pedir o dinheiro?"
- Mamãe irá brigar comigo se eu o der - disse. - Pois não o darei! - exclamou. - Mas e se for Jesus disfarçado de mendigo? Oh! Talvez Jesus diga: "queres tanto comer um bolo que me negaste as tuas moedas?" Eu não suportarei, chorarei por um ano!
As ruas estavam movimentadas.
- Direi que as moedas não são minhas, que são da minha mãe. Então Ele se surpreenderá e dirá que eu sou uma garotinha muito obediente! - disse animada. - Talvez, surpreso com toda a minha educação, ainda peça aos anjos para que componham uma música em minha homenagem! Oh, sim, serei educada! Muito educada! Gentil!
Parou. Apercebeu-se de que um casal a flagrara falando só, absorta. Riam os dois. Achariam-na louca? Ela deu de ombros e atravessou a rua.
"Nunca se deve falar com estranhos", pensou.
- Li, não me lembro onde, que pessoas que falam sozinhas são mais inteligentes.