Reveries

Um homem de meia idade sentado no lado esquerdo do beer devorava seu lanche sem preocupação alguma, a mostarda escorregando entre os dedos, com seu agasalho de grife não escondia o tique, hora esfregava o nariz, hora percorria as mãos pela virilha, na calça a mancha nítida do condimento.
Percorri os olhos a procura do garçom, precisava de outra bebida antes de prosseguir, um jovem rapaz extremamente magro e de postura curva, com a camiseta encardida provavelmente utilizada ao decorrer da semana inteira, atendia a mesa ao lado, sua face expressa dor de um fim de noite frenético, acredito que os três degraus que separam a cozinha do salão, para ele neste momento eram uma tortura.
Aguardei alguns segundos para que o garçom notasse a minha existência, do lado direito estavam um casal monossilábico, ela com um semblante opaco, lábios finos e olhar distante, ele um homem de baixa estatura, percebi pelas pernas que não ultrapassavam o limite da mesa, ambos apos um longe período de silencio esboçavam um sorriso amarelo.
Sentava próxima a janela voltei dessa abdução quando ouvi o som estridente de uma buzina, tentei entender o que ocorria, o transito não fluía em frente ao beer, dois veículos disputavam a estreita alameda. Em alto tom disparei um comentário:
- Putz!Alguma anta estacionou bem na esquina
Os prédios baixos da alameda me possibilitavam visualizar a lua que estava enorme no céu, esse inverno calhou com o fenômeno da superlua, dizem que esse fenômeno altera as marés, assim como todo comportamento humano.
Se estivéssemos em um filme a cena a seguir seria, uma linda colina, logo após uma clareira impecável, um rio no final do vale de águas tranquilas. Eu estaria sentada com um sorriso de propaganda de margarida, enquanto um vento lateral incompreensível da sua origem moveria meus cabelos, ângulo da câmera subiria rumo um horizonte sem fim.
A cena real era uma alameda suja e escura, repleta de bares, onde