Amaldiçoada - Anjo infernal - Livro 1

O que são momentos? O que é o tempo?

Acho que o perdi assim que pisquei os olhos. O perdi por aquilo que chamamos de amor. Lembro-me de bailes, danças, corridas pelos jardins e de todos os esforços para me camuflar dentre a sociedade conservadora.

Vivi por tantos anos, como forma de punição. Punição por amar e ser amada. Punição por algo que eu achava o certo, hoje não me lembro mais de seu rosto, ou seu sorriso de canto. Não me lembro de sua voz perguntando como foi meu dia, não me lembro de nada. Como se em um passe de mágica, estivéssemos vivendo, sendo livres, sem nos importar com o que éramos, ou qual título carregávamos perante a sociedade. Afinal, quem eu era mesmo?

Lembro-me de gostar de flores, lembro-me tão vagamente de sua fragilidade quanto de seus cheiros. Sinto falta da vida, do tédio e da saudade que eu sentia. Sinto falta até mesmo de mim mesma. Sinto falta de sentir falta, meu coração está acostumado.

Nestes últimos tempos, vivi pesando, refletindo, querendo vingança, planejando mil e umas maneiras de quebrar toda essa maldição. Depois, comecei a me dar conta, dar-me conta de que nada do que eu planejasse ou quisesse, eu o teria de novo. Nada. Me dei conta que aquelas paredes e aquela escuridão que por tanto tempo me assombrou, não era nada perante a saudade e a dor. O castigo não foi me prender entre aquelas paredes feitas de pedras grossas e frias. O maior castigo que ele poderia me dar, foi me dar a eternidade para definhar.