Enquanto comíamos, um silêncio ensurdecedor pairava. Pensei estar incomodando, mas foda-se. Ninguém mandou me convidar. Tentei quebrar o silêncio.
- Imagina se nós pudéssemos bloquear as pessoas na vida real? - perguntei, enquanto mastigava - tipo, tu não quer mais falar ou ver tal pessoa, tu bloqueia ela, e nunca mais vê. Seria legal, né?
Os dois me ignoram, Também não foi um assunto bacana.
- Meu isso aqui ta muito bom Marcelo! oque é isso aqui? - perguntei.
- Arroz - disse Marcelo, me encarando. Alice segurou o riso.
-Então Luis! - disse Marcelo, apontando o garfo para mim - parece que teu momento acabou né?
- Sim, sim! - engoli o arroz - eu não recebo mais proposta de publicação, ninguém me chama mais para shows de stand-up, as produtoras não me procuram mais, as editoras também, tudo!
- Pelo jeito isso não te incomoda né?
- Não... Sabe, quando tu elimina toda esperança e emoção da tua vida, tudo para ti se torna indiferente, sabe? Tu começa a perceber que nada na condição humana faz sentido, e se incomodar com qualquer coisa, é perca de tempo.
Marcelo arcou as sobrancelhas.
- Se tu pensa assim... Bom, eu vou trabalhar!
Marcelo se levantou, deu um beijo em Alice, me jogou um joinha e se foi.
- Bom - limpei a boca com a camisa, porque eu sou um porco imundo - posso fumar na varanda, Alice?
- Pode. - disse ela, sorridente.
Fui até a varanda, me sentei numa cadeira de balanço que lá estava, acendi um cigarro e fiquei fitando o mar. O mar é muito chato. Não sei a graça que vêem no mar. Mar não faz nada de legal, não solta poder, não faz mágica, não conta piada, não dança, só fica lá sendo mar.
A Alice foi até a varanda, se sentou na mureta, e também fitou o mar.