Essa história é contada por meu avô. Eu a encontrei no meio de suas cartas, uns dias antes de me mudar. Me lembro dela desde criança, quando escutei da própria boca dele, numa noite fria. A noite mais longa de minha vida. Partes dela parece que ainda não acabaram.
Era um dia quente. Meu avô Antônio e seus dois amigos, Rafael e Bruno, jogavam bola perto do velho sobrado verde no final da rua. Um vento mais forte e a bola de Bruno cai dentro do terreno de dona Lina, uma velha viúva que, de tão pouco saía, quase virou uma lenda entre os vizinhos. Não parecia querer saber de ninguém, e ninguém parecia querer saber dela. Até aquele dia.
Uma aposta inocente entre amigos. Uma brincadeira estúpida que envolvia roubar algo da velha casa verde. Tudo começou assim. Meu avô sabia desde o começo que era um grande erro. De certa forma, fora o último. Aquilo não era certo, e não tinha como acabar bem. Mas nada do que aconteceu foi por sua culpa. Sempre fez questão de deixar isso bem claro.
Os assombros daqueles dias acompanharam meu avô até a sua morte. E agora me acompanham também. Vieram me visitar novamente quando encontrei o velho caderno, onde ele despejou em forma de prosa os pesadelos acumulados por uma vida inteira. É algo que ele precisava compartilhar com alguém. E eu o compreendo muito bem. Por isso vim aqui fazer o mesmo. Aproveitem a viagem.
Em memória de meu avô, Antônio Sebastião da Veiga. Que Deus o tenha em bom lugar.