Sexta-feira, Carlinhos repetia o ritual de observar os passos leves de Marialice. O menino não se importava de fazer o caminho mais longo para casa, para que pudesse ver, longe de toda gritaria da escola, a menina que andava como anjo. Indispensável é contar o que sente esse menino por Marialice. Apaixonado, claro.
Não é meu primeiro amor, confessava para si todos os dias para, em seguida, admitir que ela era diferente. Indiferente ou desinformada a respeito do que o garoto sentia, Marialice parecia ainda não alcançada por esse tipo de sentimento que leva os adolescentes a tantas descobertas quanto decepções nessa fase da vida. Ela não falava muito. As poucas conversas que tinha era com Gabriela, sua amiga. Parecia amizade intima, mas não do tipo que se conta tudo, na verdade o intimo dessa menina, só ela conhecia. A intimidade compartilhada mesmo era a da amiga, que adorava conversar com a atenciosa menina de passos lentos.
Todo final de semana passaria rápido, se dependesse da vontade de Carlinhos. Desejaria que esse fosse ainda mais lépido, se soubesse o que iria acontecer no fim da tarde de segunda-feira, quando acompanharia, de longe, mais uma vez, os passos daquela garota.
Marialice conversou com Gabriela, minutos antes de ir para casa naquele fim de tarde. Mais uma vez a que mais falava era Gabriela, porém, desta vez, o assunto dizia respeito a espionagem que acontecia todo fim do dia. Alerta, começou a caminhar para casa, desta vez com passos pesados, pronta para pegar o espião espertinho.
Quando os sinos da igreja tocaram, com um terno "James Bond", Carlinhos, que já não era mais um adolescente, viu a linda Marialice, que vestida de noiva era ainda mais encantadora, entrar pela porta da igreja a passos leves e ser entregue a ele no altar. Era o fim de uma tarde de sexta-feira. O fim de semana não precisava mais se apressar.