Lembrar...era tudo que eu mais queria. Quando olho para essas paredes, tento reconhece-las como o meu lar, mas os meus sentidos me dizem que alguma coisa está errada. Eu perdi a memória. Há exatamente 152 dias durmo e acordo com alguém que não reconheço. Diz ser o meu marido, o meu amor, mas não! Algo não se encaixa. Tento entender por que quando ele adentra aquela porta, vestido no seu terno cinzento, inundando a sala com aquele aroma fétido de cigarro, meu corpo recua e o coração parece agonizar. Sei que ele me é familiar, mas não consigo confiar nesse homem. Ele jura já ter escutado de mim as mais tórridas declarações de amor, mas tudo parece não fazer sentido. Hoje comecei a escrever um diário. Vi isso em um livro e achei que poderia ser um tipo de refúgio... mas na verdade eu resolvi escrever porque eu precisava reviver o que eu vi ontem. Era um homem com um olhar tão misterioso que penetrou a minha alma. Meu coração parecia reconhecer aqueles olhos negros e aquela pele morena que cobria o seu corpo escultural. Eu devia ter medo, mas não tive. Ele me olhou através do matagal. Não sabia quem ele era, mas pareceu-me que ele me conhecia bem. Seus olhos brilharam quando me debrucei na janela de um dos quartos, no andar de cima do casarão. Parecia que tinha esperado ali, por um longo tempo, até que eu aparecesse. Era noite, mas apesar da escuridão, as luzes que rodeavam o pátio da fazenda revelava o quão bonito ele era. Mas quando nossos olhares se cruzaram, o barulho do carro o assustou. Foi quando o vi se esvair por entre as árvores. - Meu tal "marido" chegou - pensei. Corri para o outro quarto e como todas as noites, me deitei fingindo dormir. Meu corpo permanecia imóvel, mas meus pensamentos foram a mil. Prazer, meu nome é Ana, pelo menos é isso que afirmam. Se eu fosse me definir, seria assim: desmemoriada, desconfiada, e agora, desesperada para saber quem era o homem por entre as árvores. Por que ele mexeu tanto com a miAll Rights Reserved
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