Em algum lugar da Rússia ele está. Provavelmente empoeirado e esquecido em uma antiga delegacia. No meio de vários outros arquivos bagunçados com provas, evidências e fatos jamais desvendados. Como se as pessoas fossem brinquedos e ao passar do tempo, ficassem nas estantes apenas alugando espaço. Esquecido talvez como ela, que de tão linda e pura, hoje enterrada está. E mesmo que ela estivesse entre nós, sob esta terra imensa, sentiria-se vazia. Vazia pois, não poderia compreender o fato de que as pessoas não se gostam mais. Ninguém se suporta. E ela teria algum plano maluco e faria de tudo para colocar em prática. Prometeria ao menos tentar trazer o amor de volta para dentro das casas, dos lares, dessas almas perdidas. E você com certeza aceitaria, pois ela te convenceria disso. Onde será que ela está agora? Quando fecho os olhos tento imaginar algum campo verde claro, com lagos cristalinos e ela está lá sentada em um balanço de madeira lendo um bom romance e comendo croissants quentinhos, esses quais, ela adorava fazer. Não entendo, nunca consegui entender. Talvez eu ainda não tenha aceitado, a forma como ela se foi ainda não engoli. Brutalmente assassinada. Levaram uma parte de mim junto. E onde é que ela esteja nesse momento, de alguma forma, estou por lá também. E eu, custe o que custar. Passe tempo, chuva. Caia neve, trovoadas e sangue. Não desistirei de encontrar o arquivo morto e lhe trazer de volta a vida.
1 part