Nos ficamos em silêncio, o tempo ainda estava frio e o único som era o ranger do balanço com o movimento de ida e volta, mesmo considerando que não estávamos realmente balançando.
Eu cruzei os braços diante do peito, em uma tentativa boba de armazenar calor.
Não tinha carros na rua, os outros brinquedos e o chão abaixo de nossos pés ainda estavam molhados pela chuva, e certamente já passava da meia noite.
- É uma pena que não fomos amigos no Ensino Médio - Comentou enquanto dava de ombros - Acho que teríamos dado uma boa dupla.
- Estava ocupado demais passando cola para o grupinho perfeição do fundo da sala - Comentei em descaso, o que não deixava de ser verdade, tínhamos estudados por três anos e durante três anos nunca chegamos a nos falar.
Ele sorriu de forma encantadora e por um momento meu coração pareceu dar um pulo mais forte contra meu peito, tive que desviar o olhar para o céu sem estrelas, procurando qualquer ponto pra focalizar, tinha que aprender controlar meus nervos.
- Tem isso também, mas você sempre foi simpática com quem você conversava, poderia ter dado certo, eu não era rabugento ou coisa do tipo, só calado mesmo.
- Não, não poderia.
Algo me disse que ele virou a cabeça pra me encarar. O aperto de meus dedos nas correntes do balanço se tornou mais forte.
- Por que? - A pergunta dele veio repleta de inocência.
- Porque eu gostava de você. - Não houve resposta, e me controlei para não olha-lo - Gostei da metade do primeiro ano, até o finzinho do terceiro, então quando cada um seguiu pra um lado, passou. Não faz mais diferença agora. - Tive que complementar, minha mente berrava que tinha feito errado, que era informação demais, mas eu agira por impulso pela milésima vez.
Ele voltou a olhar pra frente.
- É, talvez você tenha razão - Ele soou calmo, e eu teria dado tudo prs saber o que se passava na sua cabeça.