É um tanto clichê começar um livro com a definição de algum termo, mas neste caso, é necessário. Rafael, traduzido do hebraico significa "Deus da cura", eu tive um amigo imaginário com este nome por vários anos, me lembro de seus cabelos enrolados louro escuro, sua pele clara e seus olhos completamente sombrios, mas ingênuos.
Ele cresceu com o tempo em que eu também cresci, as brincadeiras mudavam de acordo com a minha idade, gostaria de não ter crescido, a adolescência traz além de novas experiências, o esquecimento de coisas que um dia foram essenciais... Rafael era essencial para mim, não sei dizer se eu me esqueci dele primeiro ou se ele se esqueceu de mim.
Depois de 6 anos de uma amizade imaginaria, ele se foi quando completei 10 anos de idade, estaria mentindo se dissesse que não senti sua falta todos os dias por muito tempo, pensei que talvez eu estivesse me transformando em uma adulta e por conta disso ficando menos criativa, ou talvez me importando menos com essa característica, os adultos ao meu redor eram menos criativos e eu sabia disso, afinal, a criatividade só era reconhecida se tivesse um valor comercial, eu não pensava dessa forma. É um tanto ridículo reconhecer algo pelo valor de dinheiro embutido nele, se eu tivesse um talento e pudesse troca-lo por qualquer nota ou moedas de ouro, eu não o faria, pois não acho que dinheiro seja sinônimo de sucesso, aliás, este pensamento é um tanto desestimulador, e a falta de motivação sempre foi a doença de um país.
Mas de qualquer forma acabei me esquecendo de Rafael, o processo de esquecimento aconteceu durante todos os dias, depois das tentativas falhas de me lembrar de forma nítida como ele era.
No começo era inevitável não sonhar com ele, o sonho é uma das formas que a saudade encontra para se manifestar, mas depois de um tempo não me restou nem ao menos saudade.All Rights Reserved