Quando minha segunda filha nasceu intimei um grupo de amigas a fazer um blog coletivo só com verdades. Nem eu aguentava mais a contradição entre minhas fotos no Instagram e a vida real. Eu estava cansada, infeliz, frustrada. Mas na internet minha vida seguia como um exemplo de felicidade e bonança. O blog durou um tempo, mas passou longe do objetivo inicial. A sociedade não estava pronta pra isso, nem a gente. Era uma época em que #amomuitotudoisso imperava e não tinha espaço para ser diferentona. Chorei muito depois que as minhas filhas nasceram. Nem sempre foi de felicidade. Muitas vezes foi de desespero, de não saber o que fazer. De solidão, de frustração. Felizmente, um sopro feminista vem libertando não só a mim, como a diversas mulheres que perceberam que não estão sós. Podemos ser honestas com nossos sentimentos e admitir que a mensalidade no clube das mães é mais cara do que dizem por aí. Não se preocupe, este não é um livro de choramingos. É o contrário: tem histórias engraçadas, singelas. É mais fácil você, leitor ou leitora, ficar com raiva de minha sinceridade do que com pena de mim. Ele é um recorte sem filtro dos meus dias. É uma soneca no sol numa tarde de inverno. É um banho quente de menos de um minuto porque as crianças estão berrando na sala. É dizer não para trabalhos porque não se tem com quem deixar os filhos. É dizer sim para uma viagem sem crianças por se sentir merecedora de descanso. Este livro é sobre maternidade e todos os sentimentos loucos que temos em relação a quem de alguma forma criamos, seja um filho natural,
3 parts