Como cheguei a reescrever este curioso manuscrito e, na verdade, como cheguei a escrevê-lo é uma das muitas histórias bizarras que as páginas seguintes têm para contar. Hesito em rotular o conto de ficção ou autobiografia... pois coube ao meu gênio singular confundir as fronteiras entre os dois gêneros. Porém, ao reler o conto, que era necessariamente um manuscrito parcial e bruto, enfrentei outro problema: ou seja, que eu mesmo deixei, junto com o meu manuscrito por terminar, as minhas discussões comigo mesmo nas margens da minuta. Tomei a liberdade de inseri-las no texto onde suponho que devessem ser colocadas. Desse modo temos um registro único de um autor discutindo com (e, na verdade, apoquentando com perguntas e apartes) a si mesmo... um diálogo criativo que deve ocorrer na cabeça de todos os romancistas, mas que, na maioria dos casos, não temos o privilégio de ver.
Quando foi que escrevi este conto?
O romance foi terminado há dois anos atrás, no meio de uma década de cobiça e excessos. Coincidiu com os fatos conhecidos da minha vida... escrevi esse romance em resposta a acontecimentos desastrosos em minha vida particular, sendo que, nos últimos anos, eu estive tentando romper uma obsessão com um homem muito mais jovem, um certo Rodrigo Gonçalves, um belo herdeiro mineiro e católico com uma infeliz dependência de álcool e drogas.
O primeiro capítulo do romance me parece um dos textos mais extraordinários que já escrevi. É cru e vulnerável até um grau que parece levar ao limite a contrafobia literária. Eu me pergunto como tolero a publicação dessa obra... de tão relevadora que parece.
Talvez seja necessário mais uma palavrinha às pessoas sensatas antes de mergulharem por bem ou por mal, digamos assim, na paisagem do conto.