O sol teimava em bater na janela com rispidez, avisando um novo amanhecer. Com ele surgia a necessidade de saltar da cama e trilhar , agora, o mesmo caminho de todas as manhãs.
Acordava contando os dias, talvez fosse uma forma de se convencer que o melhor estava por vir, que estava mais perto a cada acordar. Sentia-se velha, ainda que desfrutasse de poucas primaveras. Sentia-se fora do casulo, sem proteção alguma, como se a qualquer momento a morte fosse lhe soprar um fúnebre ruído. Queria ser livre, como borboleta, que passeia entre os jardins a exibir sua singela beleza.
Pontualmente, as oito da manhã, saia de casa e andava até o portão, lá ficava a espera daquela senhora misteriosa. Aquela, que contava histórias curiosas sobre tudo que já havia visto em todos esses anos conduzindo, em sua carroça, as pessoas de uma cidade a outra. A menina ficava eufórica ao avista-la chegando e rezava para que o tempo fosse gentil e não passasse depressa, pois necessitava ouvir o encerramento daquele enredo. Caso contrário, esperaria por dias, talvez meses. Não havia uma constância, as vezes quem aparecia na vermelha estrada de cascalho era o José do Rancho fundo. Nem sempre era a senhora cujo o nome nunca havia lhe perguntado.
Em um dos tantos dias de pura ansiedade a Senhora chegou, mas dessa vez não trazia consigo uma nova história. Chegou anunciando que aquele seria seu último dia por aquelas redondezas. A menina, de súbito, começou a chorar desesperadamente. Quem agora lhe contaria aquelas histórias que mais pareciam irreais? De onde tiraria o fôlego para pular da cama? Então a Senhora lhe disse:
"Querida, é preciso coragem para ser protagonista de histórias como essas que lhe contei. Não espere chegar na minha idade para perceber a vida que lhe esperava. És broto e ainda há de florescer, não desperdice isso"
A menina ficou parada vendo-a seguir quando lembrou-se de perguntar seu nome, mas era tarde demais, a Senhora estava distante e já nã