"- Preste atenção, Sr. de Alencastro! A contrapartida que lhe peço, na verdade, não é assim tão banal. Deve ter clareza disso! Não quero que pondere simplesmente se gostara ou não da história que hei de lhe contar! Quero que, ao ouvi-la, imagine-a como a última história que ouviria na vida, e, então, só então, me diga se, considerando que por ventura ela de fato fosse sua incursão final ao mundo da imaginação, teria valido a pena escutá-la; se desejaria ter ouvido exatamente o que ouvira, ou se, como uma derradeira viagem, preferiria ter ido a qualquer outro lugar! Isto, e nada menos do que isto, é o que espero de ti! Tem certeza de que pode fazê-lo?"
Inocêncio de Alencastro não é senão um velho. Um idoso leitor solitário que no outono de seus dias se vê visitado por uma criaturinha extravagante e misteriosa a lhe trazer, entre diversas bufonarias, uma proposta irrecusável. Presa daquele suspense tão ardilosamente tecido e incapaz de resistir - como não poderia deixar de ser - ao pendor a inocência reinante em seu coração, o ingênuo velho aquiesce, permitindo que seu inconveniente conviva o lance numa jornada em que fantasia e realidade se abraçam como amantes.
"Eternidades efêmeras, efemeridades eternas" é um convite à sensibilidade e às memórias, uma exortação às histórias e à imaginação, uma peregrinação por entre os limiares e a natureza do que ousamos chamar real; em, suma, uma delicada ode a vida e a morte, em seu eterno enlace a nos desafiarem reconhecer o que há de eterno oculto naquilo que não deixa de ser efêmero.
Numa terra abandonada e amaldiçoada, onde os vivos definhavam, suas almas ansiando pela doce libertação da morte, e os falecidos eram chamados a intervir, um véu malévolo de noite eterna desceu sobre o mundo. Envolveu seus tentáculos sufocantes em torno de todos os seres vivos, espremendo a própria essência da esperança. A atmosfera estremeceu sob o peso de uma escuridão opressiva, densa e impenetrável, enquanto sombras fortes deslizavam e se enrolavam como serpentes venenosas, entrelaçando a terra em uma dança interminável de desolação e tormento.
A cada passo deliberado sobre o solo amaldiçoado, uma sinfonia de ecos tristes perfurou o ar, ressoando no âmago da existência. Esses ecos carregavam o peso acumulado de inúmeras tristezas, sobrecarregando o próprio tecido da vida com uma dor inconsolável que se agarrava à terra como a carícia maliciosa de um espectro.
Em meio a esse turbilhão melancólico, figuras emergiram das profundezas do desespero, suas formas envoltas pelo véu stygian, escondendo seu semblante. Envoltos na escuridão, eles se materializaram como espectros trágicos, presos em um espaço liminar entre a vida e a morte. Eles testemunharam a eterna luta entre a agonia excruciante e a redenção indescritível. Suas almas enigmáticas carregavam um semblante solene, seus fardos gravados em sua própria existência.
Esses andarilhos desamparados, conhecidos como "Espectros da Perdição", eram almas amaldiçoadas dotadas de consciência, atravessando as paisagens áridas com um ritmo letárgico e deliberado. Cada movimento tornava-se uma dança prolongada de angústia profunda, alongando o próprio tempo, como se saboreando os detalhes excruciantes que prolongavam a agonia de sua existência. O mundo se tornou seu palco profanado, e eles eram os maestros macabros orquestrando uma elegia de tristeza, um canto fúnebre de dor sem fim.