Será o amor materno um instinto, uma tendência feminina inata, ou depende, em grande parte, de um comportamento social, variável de acordo com a época e os costumes? É essa a pergunta que Elisabeth Badinter procura responder neste livro, desenvolvendo para isso uma extensa pesquisa histórica, lúcida e desapaixonada, da qual resulta a convicção de que o instinto
materno é um mito, não havendo uma conduta materna universal e necessária.
Ao contrário, a autora constata a extrema variabilidade desse sentimento, segundo a
cultura, as ambições ou as frustrações da mãe. Não pode então fugir à conclusão de que o amor
materno é apenas um sentimento humano como outro qualquer e como tal incerto, frágil e
imperfeito. Pode existir ou não, pode aparecer e desaparecer, mostrar-se forte ou frágil, preferir
um filho ou ser de todos.Contrariando a crença generalizada em nossos dias, ele não está
profundamente inscrito na natureza feminina.Observando-se a evolução das atitudes maternas, verifica-se que o interesse e a dedicação à criança não existiram em todas as épocas e em todos os meios sociais. As diferentes maneiras de expressar o amor vão do mais ao menos, passando pelo nada, ou quase nada. O amor materno não constitui um sentimento inerente à condição de mulher, ele não é um determinismo, mas algo que se adquire.Tal como o vemos hoje, é produto da evolução social
desde princípios do século XIX, já que, como o exame dos dados históricos mostra, nos séculos
XVII e XVIII o próprio conceito do amor da mãe aos filhos era outro:as crianças eram
normalmente entregues, desde tenra idade, às amas, para que as criassem, e só voltavam ao lar
depois dos cinco anos.Dessa maneira, como todos os sentimentos humanos, ele varia de acordo
com as flutuações sócioeconômicas da história.