Descobertas

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Uma semana, esse era o tempo que havia se passado desde o reencontro entre os dois polos opostos, que de alguma maneira estavam conectados – era isso que pensavam -. A teoria veio após o terceiro dia consecutivo dos pesadelos, que na verdade, não passavam de suas lembranças reprimidas em suas mentes, afim de protege-los de algo que nunca seria esquecido por completo. A conexão para um, vinha através de uma maldição lançada; para outro, era uma reação pós traumática forte. Mas independente do ponto de vista ambos concordavam de maneira omissa, que o melhor a ser feito no momento, era apenas evitar um ao outro. Não estavam preparados para um conforto, o curto reencontro deixou isso explicito.

Evitar um ao outro trabalhando no mesmo local era uma tarefa complicada, pois apesar de não ficarem no mesmo departamento, parecia que o destino lutava de todas as maneiras para que eles se encontrassem em algum momento. Nesses breves encontros nada era trocado além de um cumprimento como uma pequena reverencia, sem olhares, sem falas. Nenhum queria nada do outro além de paz.

Os dias passavam cada vez mais arrastados conforme os questionamentos cresciam em suas mentes perturbadas. As reações não pareceram aumentar ou diminuir, continuaram na mesma intensidade desde que se encontraram pela primeira vez, contudo, sempre que se aproximavam, a sensação os sufocava de maneira irracional. Era fato que não poderiam ficar perto um do outro, mas qual era o motivo por trás daquilo? – Essa era a resposta que tanto buscavam nos livros que estavam empilhados por toda parte.

A mulher aproveitava os intervalos do trabalho para enfiar-se nas informações que as páginas antigas lhe traziam, era como uma tsunami de informações. Haviam pergaminhos espalhados por toda sala com anotações que ela achara importante, livros abertos uns sobre os outros, outros marcados com um objeto qualquer que encontrara no seu caminho – qualquer coisa servia naquele momento de desespero – e por fim, um grande mapa mental onde as informações mais úteis e conexas se juntavam como uma tentativa de resolução que era aquele grande quebra-cabeças.

Sentada sobre o tapete felpudo com seu almoço em mãos, ela olhava fixamente para o grande quadro cheio de anotações que estava a sua frente. Era difícil achar uma boa conexão entre a magia que estudara e os efeitos que a seguiam durantes anos a fio, pois de acordo com o que lera, aquilo deveria ter se dispersado como o tempo.

Então por que aquilo continuava?

Sua mente rodava tentando achar uma conexão entre tudo aquilo, talvez ela estivesse procurando no lugar errado. A magia que estava causando aquele inferno gélido em sua vida era decorrente de um trauma emocional forte o bastante para desestabilizar seu núcleo mágico a um ponto, que propagara a sensação vivida naquele momento por anos. Ela não deveria procurar respostas apenas no mundo bruxo, mas também na psicologia trouxa.

No início de tudo aquilo, nas férias de verão antes de ingressar no seu último ano escolar, passou um mês meses em terapia intensiva com uma psiquiatra e os outros dois com um psicólogo; na medida do possível, eles a ajudaram a compreender e superar alguns pontos, mas outros eram como feridas profundas e levariam mais tempo para ser curadas.
O cérebro humano era algo incrivelmente complexo e o dela era incluso nisto, definitivamente era. Parando para analisar, era muito provável que havia conexão da reação de seu subconsciente com a reação mágica. Pelo que os médicos haviam a informado na época, era possível que sua mente guardara parte das lembranças traumáticas em um local que ela não teria acesso no consciente, como se elas fossem arquivadas no vazio. Isso poderia resultar em algumas reações onde seu corpo agiria sozinho, como um mecanismo de defesa contra algo que pudesse gerar gatilho, evitando atingir a lembrança guardada. Esses mecanismos de defesa poderiam ser falhos, ou seja, partes picadas do trauma poderiam vir para seu consciente através de algumas palavras, atos involuntários e até mesmo sonhos - como aconteceu -. Então, se pensasse por essa lógica, sua magia somadas as reações de seu subconsciente passando de forma involuntária para seu consciente, poderia resultar na constante sensação gélida que sentia, revivendo de alguma maneira aquele trauma.

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