CHUVA.

gotículas de chuva.

── Espera, Bokuto-san! ── exclamei pelo nome do platinado, enquanto minha mão esquerda segurava firmemente um guarda-chuva, o mesmo que me protegia das gotas gordas d'água.

Estendi a mão a sua direção, enquanto o mesmo corria pela chuva, ficando totalmente encharcado; suas roupas, cabelos ─ que deixaram de ser tão bagunçados e rebeldes por conta d' água ─ Me pergunto se ele não se preocupava com suas coisas dentro da mochila. Koutarou corria tão alegremente pela chuva, com um enorme sorriso, enquanto gargalhava ou dizia seu clássico "hey hey hey". Céus, era irritante.

Parei de correr por um tempo, tentando ao menos recuperar um pouco do fôlego perdido. Acompanhar Bokuto, uma pessoa tão energética e infantil, era difícil. Ainda mais alguém tão "tanto faz" como eu. Puxei o ar, inspirando e expirando diversas vezes, a procura de voltar a respiração normal. Já naquele estado, minhas roupas e cabelos estavam molhados, não tanto ao ponto de se preocupar, mas era perceptível.

── Akaashi! Vem, uma chuvinha não faz mal a ninguém! ── Bokuto gritou a uns dez metros de distância de mim, o mesmo estava tão empolgado, parecia uma criança em véspera de Natal. Aquilo me fez suspirar, não contendo o curto sorriso em meus lábios finos.

Eu não queria, a chance de pegar um resfriado era enorme, mas ao mesmo tempo, era tão tentador. Kotaro parecia não se importar com nada; com seus livros que estariam molhados, com seus cabelos que perderam seu "charme rebelde", se pegaria ou não um resfriado. Acho que posso até dizer que ele era o próprio termo de aproveitar o momento sem se importar com nada.

Encarei-o durante alguns segundos, que para mim, duraram vários e vários minutos. Pensando com toda a certeza do mundo se seria uma boa ideia. Respirei fundo, fechando o guarda-chuva com cuidado. Senti as gotículas gordas entrarem em contato do meu rosto, deslizando até meu queixo e enfim caindo no chão. Levantei o rosto por um momento, sentindo a brisa fria no meu corpo, fazendo-me tremer, abraçando meus próprios braços, esfregando-os. Estava mais que óbvio que iria pegar um resfriado, espero que tenha válido a pena desistir de me manter seco e quente para sentir molhado e frio.

── Akaashi! ── novamente, ouvi meu nome ser chamado pela voz do platinado. Me fazendo abrir os olhos em direção ao mesmo. Kotaro balançava os braços animado, como um sinal para que fosse até ele. Gargalhei, enquanto passava a mão pelos meus cabelos encharcados. Chegava a ser engraçado de tão estúpido que era a situação em que estávamos.

Em passos rápidos, fui até o mesmo. Já não me ligando se minhas roupas estavam totalmente molhadas ou não, já não sentia o frio, só sentia uma sensação confortante e pinicante. Bokuto abriu os braços, esboçando aquele sorriso enorme e bobo, que geralmente esboçava quando acertava em meio uma partida de vôlei, enquanto dizia que era o melhor e se vangloriava. E enfim, cheguei próximo de Bokuto, que passou ambos braços envolta da minha cintura, puxando-me para perto e me levantando de leve do chão.

Segurei fortemente seus braços por impulso, aquilo tinha sido nem inesperado, mas não foi ruim, embora achasse desnecessário. Gargalhei junto do platinado, que juntou nossas testas como uma forma de carinho e afeto. Retribui o gesto, apertando levemente minha mão sobre seus bíceps, mantendo o enorme sorriso.

•••

A chuva ainda não tinha passado, na verdade, havia piorado. Fez bem termos vindo logo para minha casa antes que a situação tivesse piorado. Sabia claramente que minha mãe brigaria comigo por ter tomado banho de chuva, além do chão ter rastros de poças d' água. Bem, seria chato, mas acredite, não me arrependia de ter largado aquele guarda-chuva. Embora tivesse várias e várias consequências, havia sido divertido, precisava daquele momento, precisava ter passado por aquele estresse misturado com alegria, ainda mais com Bokuto. Não trocaria aquele momento por nada nesse universo.

── Aqui, tome ── entreguei um chá quente nas mãos do platinado enrolado em uma toalha grossa, o mesmo sorriu e pegou a caneca com ambas mãos, olhando atentamente para o conteúdo. Suspirei e me sentei a sua frente, tomando um gole do meu próprio chá. ── Você sabe que vai pegar um resfriado, não é?

── Claro que sei ─ respondeu simplista, esboçando um enorme sorriso enquanto tomava dois goles do chá quente. Demorou um tempo para voltar à falar. ── Mas eu não me arrependo de nada!

Apertei a xícara na palma da minha mão, olhando para Kotaro com atenção, vendo cada detalhe de seu rosto úmido, seus fios platinados para baixo, seus mirantes amarelos penetrantes... Tudo. Não era de se surpreender que Bokuto fosse impulsivo e "aventureiro", digamos assim, mas chegava a ser engraçado, até podermos compara-lo à uma criança.

Ri fracamente, tomando mais um gole do chá, enquanto me enrolava ainda mais na toalha com um tecido grosso e macio. Kotaro me olhou confuso, provavelmente se perguntando do por quê ter dado risada depois de um tempo em silêncio. Felizmente, não precisei comentar nada, já que ele fez isso por mim.

── O que foi? ── perguntou-me, tombando a cabeça para o lado esquerdo. Parecia tanto estar curioso quanto, talvez, inseguro. Talvez por ter a ideia de poder ter rido de sua cara? É, tem essa possibilidade.

── Você é incrível, Bokuto-san ── respondi, embora não fizesse o mínimo de sentido com a pergunta que o mesmo tinha. Tomei outros goles do chá, deixando o cômodo em silêncio, apenas com Kotaro me encarando, surpreso.

Pode ter sido por conta do frio, ou algo do tipo. Mas por um momento, pude perceber as bochechas do platinado coradas, enquanto continuava a me encarar surpreso. Era fofo, como se nunca tivesse sido vangloriado ─ embora isso aconteça literalmente em todo treino e/ou jogo ─ Mas eu entendo, talvez o fato de estarmos sozinhos, encharcados, rindo e conversando nada com nada, tenha feito o momento mais intimo, e tenha sido mais profundo, com mais significado. Bem, ao menos é isso oque penso.

Bokuto desviou o olhar, encolhendo os ombros cobertos pela toalha, tomando outros goles do chá. Bem, vamos ficar doentes, com febre, e até vamos precisar faltar os treinamentos. Mas enquanto tivermos um ao outro para cuidarmos de si, estará tudo bem. Honestamente, não gosto de sair da minha zona de conforto. Preferiria mil vezes não estar tremendo de frio e com risco de ficar doente, chega a ser engraçado como Bokuto me faz tomar atitudes drásticas, atitudes que com certeza eu me arrependeria, mas tudo vale a pena quando se trata dele.