Único;

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Passos apressados e risinhos frouxos na rua escura, eram tudo o que Jisung poderia escutar no momento ㅡ se não contasse as batidas de seu coração assustado ㅡ, e ele se perguntava como deixou ser arrastado para fora de seu quarto confortável pelo Zhong, rumo a encrenca.

O Park já conseguia visualizar a porta trancada daquele estúdio, e sentia um frio na barriga ao pensar no que fariam.

ㅡ Nós não deveríamos estar aqui. ㅡ Jisung alertou, mais uma vez, se encolhendo no casaco pelo frio da noite.

Chenle riu baixinho, debochando do jeito certinho do amigo, as chaves douradas ㅡ que havia pego do pai ㅡ girando entre os dedos pequeninos. E quando a porta fora destrancada, a luz sendo acesa pelo mais baixo, Jisung sentiu o coração palpitar dentro do peito; uma sala enorme e espelhada, com barras aqui e ali, algumas sapatilhas jogadas no chão brilhante e o sorriso adorável do Zhong, que o encarava ansioso.

Chenle sabia bem o quanto o maior gostava da dança ㅡ em especial, o balé ㅡ, assim como também conhecia os pais dele o suficiente para saber que eles nunca iriam deixar o filho seguir seu sonho. Jisung não tinha dinheiro próprio ou o apoio dos pais, então Chenle resolveu agir sozinho para ver o amigo feliz. Mesmo que isso lhe custasse um castigo, por não ter a permissão do Zhong mais velho.

ㅡ Tem tudo o que você precisa, eu acho. ㅡ diante do silêncio que o Park fazia, Chenle achou melhor começar a falar, para ter alguma reação. ㅡ Enquanto meu pai dava aula, eu fui pegando sapatilhas que não eram usadas, além de uma daquelas roupas coladas. Acho que vai servir em você. ㅡ brincava com o tecido do moletom que usava, se balançando no lugar enquanto explicava tudo ao melhor amigo. ㅡ Você gostou?

Por alguns segundos, Jisung manteve o silêncio, os olhos vagando pela sala espaçosa, até caírem no rosto apreensivo em sua frente. O canto dos lábios subiram, e os olhos ㅡ já pequenos ㅡ ficaram ainda menores, antes de puxar o chinês em seus braços. Apertou o corpo menor que o seu, recebendo resmungos e tapas brincalhões, sentindo-se tão feliz que nem sabia como se expressar em palavras sem parecer um bobo.

ㅡ Eu amei! ㅡ a voz grossa saiu tímida, apenas um sussurro para que o Zhong escutasse. ㅡ É perfeito!

Rindo, o mais velho o afasta do abraço, buscando uma das sapatilhas e entregando na direção do Park, este que tentou não pensar muito sobre estar usando algo que não era seu, enquanto invadia a propriedade alheia.

ㅡ Tenta essa aqui. Se não servir, eu peguei outras de tamanhos diferentes.

[...]

Com um sorriso bobo no rosto, Chenle admirava o amigo, satisfeito em ter levado o Park até o estúdio do pai. Jisung estava apoiado numa das barras, os pés bem posicionados, enquanto executava um plié, os olhos focados no grande espelho.

Sendo sincero, Chenle não gostava de balé, mas ver o maior se aquecer tão concentrado e, eventualmente, dançar com graciosidade pelo salão, parecia a melhor coisa para o Zhong. Poderia o assistir por horas e não iria se entediar.

Bateu palmas animado quando o amigo fez um grand battement ㅡ impressionado, apesar de ver isso constantemente nas aulas de seu pai ㅡ a perna do Park bem esticada, mostrando a flexibilidade invejável do maior.

Chenle tentou o imitar, não obtendo sucesso e tropeçando nos próprios pés, o que arrancou risadas do mais novo.

ㅡ Vem cá, eu te ajudo. ㅡ chamou pelo amigo, acenando com a mão.

Quando ficaram próximos o bastante, o Park segurou a mão menor, dando o apoio necessário ㅡ ambos ignorando a barra ㅡ, enquanto a outra mão segurou uma perna do Zhong. A flexibilidade do chinês não era uma das melhores, mas com a ajuda do Park, conseguiu ao menos levantar a perna do chão sem cair.

O objetivo principal fora completamente esquecido, e Jisung passou a ensinar alguns dos movimentos que sabia para o chinês, que parecia animado em dançar consigo. E quando deram por si, ambos estavam ofegantes, rindo abobados enquanto deitavam no piso de madeira.

ㅡ Não aguento mais, não sinto meus pés... ㅡ Chenle dramatizou, enquanto massageava o pé direito.

ㅡ Nem foi tão ruim assim, Lele, não exagera. ㅡ apesar de sua fala, Jisung sentia tanta dor nos pés quanto Chenle. Ele apenas queria irritar o mais velho. ㅡ Podemos descansar um pouco, depois voltamos a praticar.

Chenle murmurou algo incompreensível, mas que Jisung sabia ser uma resposta afirmativa, antes de subir no corpo minimamte maior, usando o amigo como colchão.

E o que era para ser apenas um descanso rápido, se tornou em um cochilo, e, depois, em um sono pesado.

De manhã, assustado por encontrar a porta destrancada, o senhor Zhong entra no estúdio como um raio, já pensando no prejuízo que possivelmente teria sido feito. Porém, a imagem que encontrou era bem diferente da que esperava; seu filho grudado no melhor amigo, ressonando baixo e pacífico, enquanto era abraçado por um Jisung de boca aberta, baba saindo por ela e molhando sua bochecha.

Ballet - chensungOnde histórias criam vida. Descubra agora