Isto Não É Sobre Nós - KTH + PJM

0. Liberte meu monstro

Sinto minha cabeça pesar, mal consigo abrir os olhos e encarar o cômodo pouco iluminado, e quando finalmente o faço, me perco na falha presente na pintura do teto. Meus olhos ardem como o inferno, e sinto as lágrimas secas por todo o meu rosto. Mas nada, nada mesmo, se compara ao quanto sinto o meu coração doer nesse momento.

Tenho consciência do meu peito subindo e descendo conforme o ar rasga meus pulmões para entrar e sair de meu corpo. Por Deus, eu juro que me sinto tão miserável deitado aqui nessa cama, como se não houvesse vestígio algum de vida, vestígio algum de quem eu fui, ou de quem sou agora.

Calafrios dançam pela minha espinha quando imagino que esse teto poderia desabar em cima de mim, ou ainda que, as quatro paredes desse quarto, agora tão vazio sem você, poderiam me engolir, e eu simplesmente não me importaria.

Essa sensação é tão estranha, me refiro à sensação de um coração partido, de se estar estilhaçado em milhões de ínfimos fragmentos apenas porque outra pessoa decidiu que assim seria, decidiu que você poderia suportar ser quebrado e lançado fora.

E então, existe ainda essa necessidade maldita, a necessidade de se questionar por incontáveis vezes onde eu errei, onde você errou, o que aconteceu pra acabarmos dessa forma. Acho que no fim das contas, nós dois erramos, e eu pensei que estaria bem com isso, mas na verdade, não estou. Realmente não éramos para ser?

Porra, isso é tão fodido. O fato de você ter todo o meu coração e o meu cérebro direcionados a você e só a você, é algo tão fodido. O que diabos eu posso fazer quando tudo ao meu redor grita você? O que eu deveria fazer com o seu cheiro impregnado em cada pedaço dos meus lençóis, das minhas roupas. Como eu posso esquecer os seus malditos olhos que me assombram a cada vez que durmo?

E essas memórias estocadas no fundo da minha existência parecem convidativas, tão quentes e consoladoras, e isso as torna muito assustadoras, me fazem ter tanto medo, porque algo no modo como você se mexe, no modo como você respira, no modo como você existe me faz sentir como se não pudesse viver sem você.

E eu estou com medo, tenho tanto medo de ficar preso a você pra sempre, preso nessa amargura, nesse silêncio, nesse vazio que você criou em mim, enquanto morríamos um no outro, ambos perdidos, você e eu. E isso dói, isso dói pra um caralho.

Sento com a minha cabeça nas minhas mãos e esfrego os dedos nos meus olhos na tentativa de me livrar das lágrimas que insistem em se acumular a todo momento que eu penso em você, a todo momento que eu penso. E eu não consigo me conter, e apenas choro.

Eu gostaria de poder fingir que isso nunca tivesse acontecido e que não éramos nada, fingir que eu posso tratá-lo como um estranho e que isso não é difícil. Apenas fingir, que, sequer preciso do seu amor. E ainda assim, todo o meu ser grita que eu preciso que você venha até mim, existe esse torpor palpitando na minha cabeça para me deixar ciente de que eu anseio por isso a todo o momento desde que você saiu por aquela porta.

E só aqui, nesse momento ignóbil, eu me amaldiçoo, amaldiçoo cada parte do meu ser por não saber, por não saber que não deveria me apaixonar, pois, se eu soubesse que Kim Taehyung seria a minha queda na primeira vez que eu o vi, eu teria arrancado os meus olhos para não cair na armadilha que era seus encantos mais singelos. E talvez, só talvez, ele não teria destruído cada pedaço de mim.