A Rosa Que Uma Vez Chorou

26 3 2
                                    

Sabe como que alguém cumpriu seu "dever" na terra? Quando ela se vai, faz falta, mas você aprende a comemorar o quanto ela viveu e a não chorar quando ela se vai.

Eu aprendi isso quando tinha meus treze(13) anos de idade, com a minha Bisa-Avó. E vou explicar isso, com uma pequena história.

Quando eu era apenas uma garotinha, de mais ou menos uns cinco(5) anos de idade, uma vez por mês eu visitava a casa de uma tia minha. E com ela, vivia a minha Bisa-Avó, Duna Geruza.

Eu definitivamente adorava ir lá. Não só porque lá havia um imenso quintal pra brincar, mas toda vez que estávamos nos despedindo de todos que lá moravam, prontos pra irmos embora, minha Bisa-Avó sempre tinha uma lembrancinha, um presente, pra dar à mim e meus irmãos. 

Eram coisinhas simples e singelas, tudo feito de suas próprias mãos. Para os meus irmãos; roupas de cama ou então toalhas, que ela mesma fazia e pra mim; uma Rosa Branca. 

Sempre que ia me despedir dela, ela segurava em minha mão com carinho e me conduzia até sua pequena plantação, tinha de tudo lá. Até mesmo sua preciosa Roseira. Ela me levava com ela até essa Roseira e colhia a mais bela Rosa de lá, pra me dar de lembrança. 

Era como se fosse uma forma de ela dizer um "até logo". Uma coisa ue me fascinava, ela era uma das únicas pessoas que eu tinha certeza que conseguiam dizer muito, com apenas gestos. Gestos bonitos, elegantes, cautelosos e gentis. Ao meu ver.

Os anos foram passando. E toda vez que minha família os visitava, as cenas se repetiam. Era uma rotina, mas uma rotina tão gostosa e acolhedora de se viver. Eu não enjoava daquilo. Sempre antes de voltar, ela ia comigo até sua preciosa plantação, pra me entregar aquilo que eu tanto queria. A Rosa Branca. Era tão bom receber aquela pequena Rosa. Eu realmente acreditava que ela estava me dizendo um "até logo". 

Aquilo fazia meu dia.

Mais um bom tempo se passa. [...]

Quando eu tinha meus treze(13) anos, minha Bisa-Avó estava fazendo seus oitenta e nove(89) anos. Era sempre uma baita festa, a família toda sempre se reunia pra comemorar. Afinal, ela era matriarca da família, por assim dizer. Era sempre ela quem juntava todos da família.[...]

Uns dois(2) dias depois do seu aniversário, de toda a festa, ela ficou muito mal. Ela estava doente. Muito doente mesmo. Não tinhamos muitas opções a não ser internar ela.

Acabaram descobrindo que ela estava com câncer. Em fase terminal. 

Nunca me contaram de que, exatamente, se tratava o câncer dela. E eu também nunca tive coragem o suficiente pra perguntar. Acho que eu na verdade não queria saber que era isso mesmo, não queria. Queria fazer de conta que isso não estava acontecendo, de fato.

Apesar disso, do meu medo, da minha falta de coragem de saber sobre. Eu queria visitá-la, eu queria muito ver ela. Eu queria estar do lado dela. Mas eu nunca tive a oportunidade. 

A época em que tudo isso aconteceu, eu estava em tempo de prova escolar. Não tinha como eu ir visitá-la. Ou talvez tivesse, mas meus pais tlavez quisessem me poupar de tal sofrimento. Sofrimento esse eu passava em antecipação.

Quando ela faleceu, eu chorei. Chorei até não ter mais lágrimas pra derramar, chorei até a cabeça doer de tanto soluçar. Era ruim. Doloroso. Me sentia desolcada de tudo. 

Vê-la deitada naquele caixão, gelada e de expressão calma e serena. Era quase como se ela estivesse dormindo.[...]

Foi então que minha tia chegou em mim, quando eu ja estava um pouco mais calma, e me entregou uma Rosa Branca. "Eu sei o quanto isso era importante pra você. E quero que saiba que ela te amou como se fosse uma filha pra ela. Não precisa mais chorar, ela está apenas dormindo agora." foi tudo o que ela me disse. 

Foi aí que eu entendi o que a minha Bisa sempre quis me passar. Com ações, palvras, piadas, discursos, ensinamentos. Com a sua vida. Com tudo que ela viveu. Com tudo que EU vivi com ela. 

Eu então sabia que tinha algo muito importante pra fazer. 

Fui até a minha mãe pedir dinheiro. "Eu quero comprar uma Rosa Branca pra ela, mãe." Foi tudo o que eu disse. Ela olhou pra Rosa que ja estava na minha mão confusa, mas acho que ela estava abalada demais pra questionar e apenas me entregou o dinheiro.[...]

" Não era assim que eu queria te devolver a Rosa,Bisa... Mas parece que era pra ser assim não é..." sorrio triste. 

Não tinha mais porque eu chorar, na verdade nunca teve um porque pra eu chorar. Eu agora apenas sorria porque ela viveu.




A Rosa Que Uma Vez ChorouOnde histórias criam vida. Descubra agora