James tem uma namorada

único.

Sirius Black nunca beijou ninguém. E isso é um segredo, principalmente quando James volta para o dormitório durante uma noite de maio, no fim de seu sexto ano em Hogwarts, e sussurra para Sirius: "Lily me beijou".

De repente, James tem uma namorada e Sirius ainda não beijou ninguém. Peter já beijou uma menina. Não uma, mas duas.

O coração de Sirius pula no peito sempre que o assunto vem a tona, seja em uma conversa animada às duas da manhã no dormitório ou no meio da aula de poções porque Mary também tem um namorado da corvinal agora.

As coisas pioram progressivamente até o final de julho. As férias começam em uma semana e todos os alunos dos sexto e sétimo anos estão preocupados em se despedir de seus romances e beijar o máximo de bocas que conseguirem.

Ninguém nem ao menos tenta se aproximar de Sirius e isso quase o faz chorar escondido no banho.

"Talvez meus pais deixem eu ver Lily durante o verão. Ela poderia ir em casa pela rede de Flu e- Sirius, você acha que os pais dela sabem o que é Flu?"

James está sentado em sua cama juntamente a Sirius, uma pena pendendo entre os dedos da mão esquerda e a última redação de feitiços aberta no colchão. Remus estava lendo sentado no chão, ao lado da cama de James, e agora ele está observando os dois garotos acima.

Sem perceber, o olhar de Sirius está preso nas duas mãos de Remus agarradas fortemente ao livro grosso. Ele não presta atenção quando James bate em seu ombro e somente pisca quando Remus toca seu joelho gentilmente.

"Tudo bem, Pads?" é James quem pergunta mas Sirius ainda está fixado no sorriso singelo de Remus.

É nesse ponto que James não entende mais. Ele finge que não, mas James sabe que Sirius não beijou ninguém. Até porque Sirius Black está tão perdidamente apaixonado por Remus Lupin desde que eles tinham treze anos e seria a maior besteira do mundo beijar outra pessoa.

Acontece que Sirius Black e Remus Lupin tem muitas coisas em comum e uma delas é que ambos são incrivelmente idiotas.

James não se surpreendeu quando Lily lhe perguntou se Sirius e Remus estavam namorando; o problema é que nem ele tinha a resposta.

Possivelmente? Provavelmente? Não. Mas talvez?
Eles são uma enorme confusão que nem sempre James e Peter estão dispostos a lidar.

Então, quando naquela mesma noite Sirius se esconde debaixo das cobertas de James e esperar ele voltar do banheiro para lançar um feitiço silenciador nas cortinas, a pergunta vem e James precisa se segurar para não socar o melhor amigo.

"Por que ninguém gosta de mim?"

O timbre frágil de choro seria imperceptível para alguém que não o conhecesse tão bem, então James engole a raiva momentânea e deixa seus braços circularem os ombros de Sirius num abraço.

"Eu gosto de você." Ele joga limpo.

"Você sabe o que eu quero dizer, Prongs."
Sirius se afastou antes de continuar. "Você tem uma namorada. Peter quase teve uma namorada."

"Não é como se você quisesse uma namorada, hein?" James riu mas parou quando Sirius continuou em silêncio. "Olhe, Padfoot, eu acho que às vezes algumas coisas acontecem bem debaixo do seu nariz e mesmo assim você não percebe. Só... dê um tempo, sim? Outra pessoa também tem coisas para assimilar."

"Você sabe alguém que gosta de mim!" Sirius pulou na cama, indignado. "Prongs!"

"Você é o único que não sabe! Agora vá embora, eu quero dormir!"

[...]

Três dias se passaram até a realização chegar a Sirius.

Ele e Remus estavam no dormitório, sozinhos. James estava no campo de quadribol terminando a manutenção de sua vassoura antes de sair para o verão e Peter havia se perdido em algum lugar do castelo para terminar correndo sua lição de poções.

Remus, ajoelhado no chão, começou a guardar alguns objetos no malão, parando de minuto em minuto para ler mais um parágrafo do seu livro trouxa sob a cama.

"O que você está lendo?" Sirius levantou os olhos de sua revista de quadribol para perguntar.

E então aconteceu.

Remus olhou para ele e sorriu animado com a oportunidade de narrar a história mas Sirius se perdeu nas duas primeiras palavras. O sorriso. Oh, droga.

Bem debaixo do seu nariz.

E ali estava ele, Remus Lupin ajoelhado no chão, sorrindo e falando sobre algo que ele adorava. Quase a visão do paraíso.

Foi como se de repente Sirius não pudesse mais respirar. A realização caiu tão forte em seu colo que o ar faltou e sua boca abriu em descrença.

Remus parou de falar.
"Você só estava sendo educado. Desculpe."

"O quê?" Sirius piscou ligeiramente atordoado. "Não, não, continue."

Ele se jogou ao chão para se sentar de pernas cruzados ao lado do amigo. Remus marcou a página do livro antes de fecha-lo dentro do malão e encarar Sirius.

"Você está distante. Não é a primeira vez que estamos conversando e você simplesmente desaparece dentro da sua própria cabeça." Remus observa e Sirius dá de ombros.

"James tem uma namorada."

É tudo que ele diz. Os olhos de Remus estão confusos quando Sirius também se ajoelha e fica de frente para ele.

"James tem uma namorada." Remus repete e entende.

"Moony, eu..."

"Eu sei. Eu também."

O ar some de novo e dessa vez é como mágica. Mas não aquela que eles fazem da ponta da varinha ou dentro de um caldeirão. É magia pura e invisível que faz o coração dentro do peito querer transbordar e as mãos tremerem. É a mágica que acontece quando Sirius fecha os olhos e Remus sabe exatamente o que fazer.

O ano escolar acabou e Sirius Black beijou alguém.

James tem uma namorada
e Sirius tem Remus.