A resposta era hipnose

O que tenho que fazer para te conquistar?

"50 dicas para conquistar seu boy" era o título da matéria principal daquela revista. Bem presente, em letras garrafais, brilhantes pelo aspecto vinílico utilizado na capa. Estava incrédulo com o exemplar em minhas mãos, e ainda mais pelo fato de pertencer ao Taehyung. Nem precisava folhear algumas páginas para entender que aquilo era apenas um texto qualquer escrito por homens, dizendo para mulheres serem submissas e agirem conforme o gosto de caras enjoados.

O mais triste é que essas mulheres vão acabar seguindo porque a sociedade impõe que todo mundo tem uma cara metade, uma alma gêmea. Ou se você for um jovem que precisa seguir tudo que é moda, perdão, tudo que está no "trends", você deve falar:

Soulmates, uma palavra que significa que se você tem mais de duas coisas toscas em comum com outra pessoa, vocês foram unidos pelo destino e vão ganhar um unicórnio e voar pro caralho.

E sim, eu estou decepcionado comigo por saber a existência dessa modinha.

— Tem como você fingir que não vai vomitar só porque viu essa revista? — disse Taehyung saindo do banho, passando a toalha no corpo.

— Tae, olha a merda desse título?! Você quer que eu não me indigne com uma porra dessas? — disse mostrando a revista para ele olhar pelo ombro e depois voltar a escolher suas roupas. — Seja lá por qual homem gostoso você comprou pra bater punheta, não vale a pena!

— Yoon! Para de ter ideias erradas como essas sobre mim. — Se fez de ofendido. — Não foi por esse motivo que eu comprei...

— Então foi por quê? Por conta dessas dicas maravilhosas? — Sorriu amarelo. — Ah, vai tomar no teu cu, Taehyung! Acabou a amizade! — Me segurou rindo, me puxando para um abraço. — Para! Tá me molhando! — Me deu um beijo na bochecha e voltou a escolher suas roupas.

— Yoongi, você tem que entender que eu sou um gay romântico, você que é um gay muito anárquico! — Voltou a olhar seus cabides, olhando roupa por roupa.

— Você tem alguma gilete, ou estilete para acabar com meu sofrimento? — perguntei me deitando em sua cama, observando ele parar e se olhar no espelho.

— Jamais vou incentivar qualquer ato de autoflagelo. — Arrumou com as pontas dos dedos milimetricamente sua franja.

— Mas eu não vou usar em mim... Vou cortar sua língua, é rapidinho... — Fiz meu olhar de gato fofo, já que sabia que tinha visão minha pelo espelho.

— Eu te adoro... — Se virou com um sorrisinho contido para me olhar. — Mas não, nós temos uma festa de Natal pra ir.

— Vou me jogar da janela! — Olhei para a revista do meu lado e a peguei novamente. — Vou comer essa revista, e morrer sufocado pelo machismo dessa sociedade!

— Para de drama, caralho! — Retirou o exemplar de minhas mãos. — Eu preciso dela, okay? Procura uma outra maneira de morrer! Que tal morrer limpando minha casa?! — Jogou uma blusa em cima de mim com cabide e tudo.

— Porra, Taehyung! — Ameaçou jogar o cinto — Aí já é sacanagem!

— Amassar toda a roupa da minha cama não é? — Sorri amarelo, mandando beijinho enquanto ele desviava o olhar irritado.

— Mas falando sério, você pretende usar essas dicas toscas? Taehyung, logo você? Um homem bonito, estudado, precisa seguir essa revista? Qual é o nome desse seu desespero todo?

— Você não faz ideia de como ele é difícil... — Fez um biquinho chateado. — Mas não vou usar as dicas, pelo menos não essas... Eu preciso dessa revista porque tô reescrevendo e adaptando o conteúdo para a comunidade LGBTQIA+.