Capítulo 2
13:30
— A comida está uma delícia mãe.
— Obrigada.
— Mãe, eu vou ter que ir. Vou passar o som com a banda para missa a noite. Juntamos os ministérios.
Num primeiro momento eu estava pronto para gritar que iria junto com o Luís para a igreja. Mas aí mesmo tempo eu minha mente bloqueou essa idéia insana de querer estar no mesmo local que o insolente do Midas. Vai que ele me agarra? Meu irmão mataria nós dois.
— Primeiro você irá comer.
— Você podia levar o Gregório para o ensaio.
— Como? Eu? Não. Eu tenho que estudar.— Não sei estudar o que, já que estou dee férias.
— Estudar para que Greg? Vamos comigo, você só fica em casa.
— Está decidido você vem comigo.
— Mas eu... — E agora? O que eu vou fazer? Preciso tomar banho, será que ainda tenho gel? Mais o que eu to pensando? Isso não é o verdadeiro problema. Não quero enconta—lo.
— Vou subir e tomar um banho. Quer que eu espere você tomar banho ou não precisa?
— Espera.
Preciso de uma desculpa. Já sei, vou dizer que estou com dor de cabeça sempre funciona. Não! Vão querer me da remédios, odeio remédios. Odeio também o fato de não querer dar uma desculpa.
Meu irmão demorou um pouco no banho, mas eu bem sei o motivo. Camila cantava no coral e estaria no ensaio, sempre achei que os dois formavam um lindo casal. Semana passada enfim rolou o primeiro beijo, ele veio logo me contar, pelo menos nesses momentos contávamos um com o outro. Luís sempre soube que eu era fechado para o mundo e eu agradecia a sua compreensão.
Banho tomado, vestido, cheiroso e com um pé atrás nos acontecimentos a seguir.
14:17
Quando chegamos todos já estavam lá, cada um com seu instrumento dando os acertos finais para o ensaio. Como eu previra lá estava Camila, seus lindos cabelos num black lindo de chamar a atenção, ela era negra e tinha belos olhos verdes. Dava inveja a qualquer patricinha loira de olho azul e cabelos espichados. Meu irmão era uma cara de sorte, o branco da pele dele, junto com seu cabelo cortados a máquina 2, criava um contraste magnífico. Como seriam os filhos desse novo casal? Seria um tio bobo.
— Boa tarde Greg. Estava aqui pensando. Seu nome e Gregório ou Greg mesmo?
— Boa tarde vossa majestade. Me chamo Gregório, mas prefiro Greg.
Apesar das minhas palavras transmitirem uma certa confiança, eu estava um total descontrole emocional. Que ser é esse que mexe tanto comigo? Essa piada com o nome dele? Ta, acho que não fui tão confiante assim.
— Vossa majestade?— Risos— Ninguém nunca tinha feito essa piada.
— As pessoas ficam encantadas com o poder do toque de Midas e esquecem que ele era um rei.
— Verdade. Saindo um pouco do mundo de contos de fadas e voltando para o mundo real, a qual nós pertencemos, você toca ou canta?
— Nem toco e nem canto. Vim...
— Mas encanta.
Um sorriso bobo e traiçoeiro me denunciou.
— Como ia dizendo, só vim assistir.
— Midas, do falta você.— Chamaram de longe.
— Eu vou, mas eu volto.
O ensaio começou e mesmo de cabeça baixa e fones no ouvido, eu sabia que ele me olhava, precisava sair do foco. Uma hora alguém iria perceber.
16:56
— GREG! GREG! GREG!
Mesmo com o fone em toda altura tocando Monster—Paramore, eu consegui ouvir meu irmão aos berros me chamando.
— Calma cara, ta muito nervoso.
— Você fica com esse troço no ouvido e eu to aqui lhe chamando a meia hora.
— Meia hora? Larga de ser exagerado.
— Eu se fosse você ia logo.
Estava bom demais para ser verdade, achei que ele já estivesse ido embora.
— É o que farei. Não se preocupe.
— Vocês já se conhecem?
— Seu irmão foi quem me acolheu hoje de manhã.
— Massa.
— Então. Vamos, Luís?
O caminho todo eu não conseguia tirar o olhar dele da minha mente. A ousadia dele me incomodava, mas não de um jeito ruim. Sentia inveja da espontaneidade dele, de como ele dava a cara a tapa e como o sorriso dele fazia com que seus insanos atos parecessem mais aceitáveis para mim.
Ele conseguia mexer comigo como nunca achei que aconteceria. Ele me mostrou algo que nunca tinha sido apresentado antes, pela primeira vez queria estar perto de um cara com segundas intenções pela primeira vez eu queria sentir um cara bem mais próximo do que eu já imaginei.
Não sei o que estava acontecendo comigo, só sabia que um dia, uma hora, em algum momento eu me deixaria levar pelo toque de midas.
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Eu estive aqui
RomanceUm conto que traz mais um relacionamento gay, só que assolado não por uma sociedade preconceituosa e sim pelos monstros do armário.