Capítulo 29

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As palavras dela, ditas num tom tão grave, me fizeram estremecer. Então ela já imaginava que eu a procuraria? Talvez por isso ela tivesse preferido ficar no apartamento a ir com Travis e os outros para o salão de jogos? Milhares de perguntas colidiam em minha mente, unidas à enorme tensão e ansiedade que atordoava meus sentidos. Engoli em seco, buscando as palavras e a voz para respondê-la, e após alguns segundos, que me pareceram horas, consegui me acalmar um pouco.

- Estou ficando tão previsível assim? – perguntei, e agradeci fervorosamente minhas cordas vocais por não permitirem que minha voz falhasse ou parecesse trêmula.

Madelaine soltou um risinho mórbido, ainda sem me olhar, e eu mantive meus olhos fixos nela, atento a qualquer movimento que pudesse fazer. As palmas de minhas mãos chegavam a formigar de tanto desejo acumulado de tocá-la novamente, de sentir sua pele ardendo sob a minha, e eu sentia que meus olhos poderiam saltar de suas órbitas, desesperados pelos dela, que ainda se recusavam a me olhar.

- Teimosa seria um adjetivo melhor. – ela retrucou, com a voz levemente hostil, e devido a esse fator, eu me lembrei do real motivo pelo qual estava ali. Nada de carinhos, nada de sutileza; aquele era o nosso acerto de contas.

E pelo visto eu não era a única com aquele pensamento. Ela parecia saber disso tão bem quanto eu, porque se virou para mim devagar, e quando seus olhos encontraram os meus, vi que eles também pareciam em chamas, exatamente como os olhos que vi em meu reflexo no espelho do banheiro. A única diferença era que as chamas de seus olhos pareciam fracas, prestes a se apagarem com uma simples brisa, e de certa forma, tristes. Eu sabia que doía para ela ter que optar por apenas um de nós dois, mas não podia ignorar o fato de que ela também havia me ferido ao simplesmente me evitar da noite para o dia. E foi por isso que eu continuei nossa frágil e tensa conversa.

- Pelo menos disso você ainda se lembra sobre mim. – assenti uma única vez, erguendo as sobrancelhas em tom de surpresa – Que bom saber que não fui esquecida tão rapidamente quanto fui repelida.

O olhar de Madelaime estremeceu diante do meu, e a chama em suas íris pareceu sumir por alguns segundos.

- Se você prefere achar que eu te esqueci, ótimo. – ela murmurou, ranzinza, fugindo de meus olhos – Torna todo o trabalho mais fácil pra mim.

- Trabalho? – repeti, dando um passo na direção dela com a mesma ousadia que demonstrei em minha voz – Então é assim que você enxerga tudo que aconteceu entre nós?

- Vanessa, eu já pedi pra você me deixar em paz! – ela revidou assim que terminei de falar, parecendo perturbada com minha aproximação – Por favor, pare de me atormentar.

- Por que eu deveria? – rebati, dando mais um passo e vendo-a se levantar bruscamente, como se eu fosse algo perigoso (e de certa forma, concluí que eu realmente era) – Você teve consideração comigo quando simplesmente me chutou pra fora da sua vida sem aviso prévio? Hm, vamos ver... Não. Por que eu deveria ter algum tipo de consideração com você?

- Você queria que eu fizesse o que, Vanessa? – Madelaine exclamou, e eu percebi que ela gradativamente perdia o controle sobre sua mente, como sempre acontecia quando eu chegava perto demais, fosse com as palavras, fosse com o corpo – Eu tinha que escolher de uma vez, não podia continuar agindo feito uma puta!

- Não diga isso, Madelaine. – rosnei, sentindo a raiva subir cada vez mais por minha garganta, queimando-a por onde passava e me fazendo perder também a noção de minhas palavras – Putas teriam mais maturidade para lidar com isso que você, tenho certeza disso.

- Você deve ter transado com várias delas para afirmar isso, não é? – ela retrucou, ultrajada com minha ofensa – Eu fui mesmo muito idiota de ter me deixado envolver com você e toda a sua imundice!

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