O vento forte e ao mesmo tempo suave envolve meu rosto por completo, uma brisa tão suave que me faz viajar pela minha imaginação. Meus dedos que tocam as teclas do velho piano trás uma melodia encantadora, os pássaros cantando no jardim, os grilos cricrilando ao longe, e o som ensurdecedor dos meus irmãos mais novos brincando na sala de estar.
Quando toco piano eu esqueço da realidade, admito, mas desta vez foi impossível me concentrar.— Jane! Volta aqui com o meu cavalinho! — Grita Stefan, o caçula da família.
— Vem pegar! — Desafia Jane, a caçula antes de Stefan.
— Vocês querem parar? Estou tentando ler! — Retruca Andrew, o segundo mais velho.
Parei de tocar e olhei ao redor, o barulho não parou nem um minuto sequer, o que não é nenhuma novidade. Andrew está sentado numa poltrona com um livro na mão, e Stefan está atrás dele pulando na poltrona. Jane corre pela sala e derruba várias coisas no chão sem parar, essa pilantrinha.— Você não vai fazer nada, Eve? — Andrew me perguntou já sem paciência.
— Vou pensar no seu caso — Falo sorrindo o irritando ainda mais.
— Onde está Madeline? — Andrew me perguntou se levantando.
— Não sei, eu vi ela na hora do almoço, e...— Sou interrompida pela porta se abrindo e logo Madeline entrando.
— Por Deus! Onde esteve? — Pergunto a vendo toda cheia de lama, Madeline, a irmã do meio.
— Fui inventar de andar a cavalo e deu nisso! — Fala bufando.
— Está parecendo um porco selvagem — Andrew fala em meio as gargalhadas, quase não consegui me segurar também.
— Fique quieto! — Madeline joga uma almofada em Andrew o fazendo parar de rir.
— Bem...— digo me levantando e ajeitando meu vestido — está na hora do seu banho, não é? Aliás...de todos...— Olho para Jane atrás da cortina e Stefan embaixo da mesa.
— Por que sempre temos que obedecer a irmã mais velha? — Stefan revirou os olhos se levantando.
— Porque sou a mais velha — Falo.Não demorou muito para nossa tia Doreline aparecer, logo quando entrou ficou perplexa com Madeline e com a bagunça da sala.
— Mas o que foi que aconteceu aqui? — Perguntou me olhando com seus olhos castanhos arregalados.
— Não fale, já vi o que aconteceu. Jane, Stefan, já para o banho, e você mocinha — aponta para Madeline — Já para o banho e depois vamos conversar.
— Tia, quando o jantar ficará pronto? Estou com fome...— Andrew esfrega as mãos na barriga.
— Espere, logo ficará, Eveline vá se aprontar para o jantar. Acabou a brincadeira, amanhã vocês continuam.
— Sim, senhora. — Digo e saio da sala segurando meu vestido para subir as escadas.
Abro a porta do meu quarto e escuto risadinhas pelo corredor, Stefan, conheço sua voz a quilômetros. Me sento na minha penteadeira e olho no espelho, meus cabelos loiros escuros presos em um coque trançado, meus olhos castanhos, meu rosto pálido e minhas bochechas um pouco rosadas me fazem pensar que não sou feia, eu sou bonita...eu acho. Nunca tive um pretendente, claro que com 18 anos não teria uma fila deles, mas pelo menos 1, só 1. Bem, tenho uma vida inteira para isso, mas confesso que não vejo a hora de conhecer alguém que eu goste e sinta que quero me casar e construir uma família com ele.Sou magra, estatura média, e tenho algumas curvas, sempre me elogiaram por elas, e criticada pela minha tia por meus seios serem um pouco grandes demais, afinal, padrão é padrão. Mas gosto do meu corpo e de quem sou, me orgulho disso. Todos os dias quando acordo eu penso: tenho saúde e sou feliz, quer dizer, nem tanto feliz... e é isso que importa.
O cheiro de frango ao molho me hipnotizou até a sala de jantar, sento na primeira cadeira que vi e olho para aquele grande e majestoso frango na minha frente.
— Que cheiro maravilhoso é esse...— Madeline entra na sala e logo se vê hipnotizada pelo frango.
— Nossa...que delícia! — Diz Andrew sentando de frente para mim.
— Hum...— Stefan fecha os olhos para sentir o cheiro.
— Crianças...— Tia Doreline entra sorrindo e senta conosco — Hum...mas que frango caprichado, hein!
— Quem quer o primeiro pedaço? — fala empolgada.
— Eu! — Stefan grita com a mão levantada. — Eu primeiro, hein.
— Está bem, está bem, o primeiro pedaço vai para o pequeno Stefan — Ela coloca um pedaço do frango no prato de Stefan e todos o acompanhamos com o olhar — E então? Como está? —Pergunta.
— Uma delícia... — Stefan murmura de boca cheia e todos rimos.Este jantar parece divino, depois quando eu terminar quero ver minha mãe, ela está doente há mais de 6 meses e não consegue sair da cama pois está fraca demais. Desde que meu pai faleceu há 1 ano ela não sorri mais, não vive mais, por isso ficou doente. Minha tia cuida de nós desde o acontecido, sei que mesmo ela sendo viúva e sozinha ela tinha a vida dela, ainda tem.
Não estou reclamando, não, estou apenas vendo a outra forma de pensar, isso não é justo.Mas ela está cuidando de nós e sou muito grata, minha mãe não queria nos ver sozinhos, e nunca vai querer.
Ela me disse durante esse tempo: independente do que aconteça, nunca se separe do seus irmãos.
E eu guardei isso comigo.
E prometi a mim mesma com toda a minha determinação, nunca irei os abandonar, seja o que for.
Eu os amo, e sempre os amarei.Londres — Inglaterra, 1878.
Fique com o próximo capítulo!
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A história de uma jovem.
RomanceEveline Henderson desde pequena teve uma vida agradável junto ao seus irmãos e irmãs, mas, com o falecimento de sua mãe sua vida mudará de uma maneira drástica e sem piedade alguma. E desta vez, sua dignidade e pureza irá embora junto com a sua inoc...