CAPÍTULO 3

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Gritos ao longe me tiram de meu sono profundo, acordo assustada e com o coração na mão, mamãe!
Não pode ser, aconteceu o que eu mais temia, será mesmo?
Stefan...Jane...Madeline...já não sei mais o que pensar.

Me levanto em um pulo e visto meu roupão de cetim e renda, mal visto meus sapatos e saio do meu quarto em disparada pelo corredor a frente, rumo ao da minha mãe.
Chego em segundos e logo vejo Andrew encostado na parede ao lado da porta, não consigo decifrar que sentimento ele está sentindo, nem o que está passando por sua cabeça. Minha respiração ofegante se acalma aos poucos enquanto continuo parada o observando.
Não sei o que pensar, nem o que fazer, eu não sei! Não sei se choro, grito, abraço, saio correndo, simplesmente não sei.

   — Ela se foi...— Andrew fala quase num murmuro.

Levanto minha cabeça e o olho, consigo ver seus olhos quase lacrimejando, seu olhar perdido em um mundo paralelo, sua respiração lenta e suas mãos trêmulas. Ele também não sabe o que fazer, então devo tomar uma iniciativa, sendo a mais velha.

    — Chegou a hora dela, Andrew...já sabia que isso poderia acontecer...— Solto rapidamente, tentando ser forte.
    — Sim, eu já sabia, e não é atoa que estou aqui agora — Diz grosseiramente e passa por mim.
    — Andrew, eu entendo que está magoado...mas...— Não tive nem tempo de terminar.
    — Será que não vê?! Você é a única sem chorar até agora, será que não sente nada? É tão fria assim? Que tipo de irmã é você?! — Grita e sai andando rapidamente em meio as lágrimas.

Eu...eu só estou tentando ser forte...por vocês...
Eu compreendo a dor dele, está sofrendo e isso eu não posso evitar. Para ser sincera, eu não sei o que sentir, é tanta coisa na minha cabeça, e agora, a pior dor que existe se manifestou em mim.
Mas tenho que ser forte, por eles.

Neste exato momento, a única coragem que me restou entrou dentro de mim e criou forças para entrar neste quarto e ser a moça forte que mentalizei, sim, isso mesmo que vou fazer.
Entro no quarto com toda a minha determinação e vejo a cena mais triste da minha vida, mamãe, tão jovem e bela deitada sobre a cama. Tia Doreline está de pé chorando silenciosamente ao lado da cama, Stefan está nos braços de Madeline e Jane sentada na ponta da cama. Me aproximo lentamente e respiro fundo, olho para mamãe e sinto às lágrimas virem a tona, algumas delas deslizam sobre meu rosto, já outras nem tanto.

Sento junto a Jane e a abraço deixando-a pousar sua cabeça em meu peito, confortando-a. Não consigo imaginar o que está se passando na cabecinha deles, nem mesmo na minha. Vendo minha mãe ali, sem vida, me deixa de um jeito indecifrável, somente meus pensamentos mesmo para aliviar esta situação.

   — Mamãe...— Murmura Jane em lágrimas.
   — Calma meu amor, calma...— Digo confortando-a enquanto acarecio seus cabelos loiros como os meus.
   — É melhor...— Tia Doreline recomponha-se — É melhor levar Stefan e Jane para seus quartos.
   — Pode ajudar sua irmã? Eveline? — Diz olhando para mim e Madeline.
   — Claro — assenti e me levantei ainda abraçada com Jane — Venham comigo, Madeline...— Falo gentilmente para que Madeline faça o mesmo com Stefan.

Deixei que passassem em minha frente e então olhei mais uma vez para trás.
Eu sabia que isso não demoraria para acontecer, mas não estava preparada o suficiente, talvez nunca estive.
Fechei a porta e senti um peso sobre mim, uma dor internamente que vou carregar comigo. Por fora estou fria e séria, mas por dentro...eu estou gritando.

Abro a porta do quarto de Stefan e o coloco na cama, limpo suas bochechas rosadas com meus polegares e o cubro.

   — Eve...— diz ainda lacrimejando — Onde mamãe está? — Pergunta.
   — Ela está em um lugar melhor agora, no céu — Explico enquanto acarecio seu rosto pequeno e delicado.
   — Ela vai saber que crescemos um dia? — Mais uma pergunta.
   — Vai sim, ela sempre saberá — Explico novamente e me levanto.
   — Dorme aqui comigo? Tenho mais perguntas...— Fala me olhando com olhinhos brilhantes.
   — Não, não posso. Mas prometo responder suas perguntas amanhã, tudo bem? — Pergunto para finalizar.
   — Tudo bem...— Se vira para o lado e respira lentamente, eu sei que ele está chorando com os olhos fechados.

Ainda estou parada o olhando dormir, já nem sei mais se consigo me segurar por muito tempo, está difícil conter as lágrimas e fingir que está tudo bem.
Mas não está.

Saio o mais rápido possível do quarto secando minhas lágrimas e vou para o de Jane. Logo quando chego vejo Madeline sentada na cama cantarolando ainda emocionada para que Jane dormisse.
Estou longe, ao lado da porta as observando. Nenhuma notou minha presença e assim é melhor, sem mais emoções e perguntas nas quais não posso responder.

Abro a porta calmamente e as olho mais uma vez, Jane pegou no sono com lágrimas no rosto, e Madeline está sentada com as mãos na cabeça, chorando.
Eu poderia muito bem ir até lá e abraça-la, mas se fizesse isso acordaria Jane que acordaria Stefan, e visse versa.
Amanhã sem dúvidas abraçarei todos,  querendo ou não.

Volto ao meu quarto e me jogo na cama com meu rosto entre os travesseiros, começo a chorar sem parar, como se não houvesse o amanhã. Choro por tudo, pela morte da minha mãe, pelos meus irmãos e por mim, por me sentir tão sozinha e sem rumo algum.
Bato as mãos na cama e me pergunto o por que. Por que minha mãe? Por que?!

Não consigo imaginar como será daqui para frente, além de suportar essa dor tenho que ajudar meus irmãos, ajudá-los a se recompor e a continuar a vida.
Aconselha-los sobre esta perda, de como juntos poderemos superar isso tudo, e de que nada, nada, nos separará.
Nunca, nem que para isso eu me sacrifique por eles.
São minha única família agora, a segunda mãe deles, e assim vou ser.

Fique com o próximo capítulo!

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