rotina

se for por mim, vai ser assim

Todos os dias, Minhyuk e SanHa voltam juntos para casa. Os garotos estudam na mesma escola, uma das melhores do país, o que é motivo de orgulho para os familiares. Mas a escola fica longe de onde os antigos amigos moram, eles têm que pegar dois ônibus para chegar na escola ou em casa. É cansativo, mas eles adoram a rotina meio conturbada. Amam os momentos de paz que tem no caminho, às sete da manhã, onde sentam um ao lado do outro e ficam escutando a mesma playlist de sempre. Estudam até às quatro da tarde, que é quase o horário que o ônibus passa, fazendo com que eles tenham que dar uma corridinha para chegar ao ponto de ônibus e não perder o coletivo. Quando entravam no mesmo, faziam a mesma coisa que na ida: sentavam um ao lado do outro, colocavam os fones de ouvido e botavam a playlist favorita deles pra tocar. Era um momento de completa paz para os dois adolescentes. Ficar ouvindo músicas que significam tanto pra eles após um dia cheio, às vezes aproveitar o clima gostoso que estava, onde não sentiam frio e tampouco calor, apenas estavam confortáveis. Olhavam a paisagem bonita e arborizada do trajeto que seguiam, e, infelizmente, eles tinham que quebrar aquele clima tão bom para descer do ônibus e partir para outro. Os meninos não moravam no mesmo bairro, cada um podia pegar um ônibus para seu respectivo bairro, mas faziam um esforço um pelo outro, pegando o mesmo ônibus só para que pudessem ficar juntos mais um pouco. E assim era feito. Mais uma vez entravam no ônibus, se sentavam, colocavam os fones e voltavam para o mundo paralelo que pareciam viver juntos, aproveitando aquele átimo que, para a sorte deles, parecia interminável. Sentiam que o mundo tomava outra forma; uma boa. Era tudo totalmente diferente. Podiam sentir seus sentimentos e escutar seus pensamentos, pareciam, de alguma forma, mais conectados. Fechavam os olhos e podiam visualizar as mesmas coisas tão doces para eles. Era uma sensação tão acolhedora que aquilo trazia, ficavam receosos de um dia acabar. Já tinham pensado naquilo muitas vezes: e quando acabar? Não tinham todos os dias de todos os meses e anos para ficarem daquele jeito. Um dia iriam se formar, não precisariam seguir o mesmo caminho de forma tão natural, e que medo isso dava neles. Viviam fazendo o trajeto automaticamente, era um costume que não queriam deixar de praticar, mas a vida exigiria outros comportamentos deles, outras rotinas, um outro viver. Não queriam viver separados, nem lembravam mais a sensação de não ter o outro por perto, não era algo que gostariam de saber. Contudo, o último dia da rotina deles havia chegado. O último dia de aula tinha pressa para se concretizar, tanta que não giram o tempo passar, não se prepararam para o momento, estavam tensos em agonia por não saber o que fazer naquele dia. Por isso, SanHa decidiu mudar um pouco as coisas. Naquele dia, enquanto iam para o ponto de ônibus, se preparando para ir para a escola, o mais novo começou:

— Min, hoje é o último dia. — falou com uma entonação mais emocionada do que queria.

— É, SanHa. É o último dia. — sorriu triste, passando todos os sentimentos possíveis através de seu olhar caído para o garoto ao seu lado.

— Eu não achei que ia chegar tão rápido. Não queria isso.

— Era de se esperar, né? Infelizmente, o ensino médio não dura pra sempre. — voltou a olhar o caminho, percebendo que faltava poucos metros para chegarem ao ponto.

— Sempre dizem que é bom se livrar da escola. Por que eu não me sinto melhor? — perguntou sinceramente, tentando entender se havia algo de errado com ele.

— Ah, SanHa, eu também estou mal com isso. Acho que fomos muito feliz durante esses anos para terminar isso de maneira tão simples. Acho que é inevitável sentirmos tanto assim. — tentou consolar o amigo, que soltou um longo suspiro.

— Você já parou pra pensar como vai ser daqui pra frente? Sabe, não teremos mais que acordar cinco da manhã, nem vamos ouvir as mesmas músicas no ônibus. Não faremos mais um monte de coisa. Isso não te assusta?