Autoconhecimento

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Meu coração bate tão rapidamente, o barulho do relógio deixando meu peito angustiado, não consigo respirar, estou ficando louco, meus olhos ardem enquanto as lágrimas secam, olhos inchados, pego o copo d' água em cima do balcão da cozinha, bebendo tão lentamente, com as mãos tremulas derrubo algumas vezes no chão, até penso em enxugar mas estou atordoado demais para agachar, deixo o copo vazio, andando até o quarto, praticando um exercício de respiração, respira, inspira, nada parece funcionar, pego os fones de ouvido em cima da cama, coloco nos ouvidos, encaixo no celular, clico no botão e busco por uma música calma que me relaxe, quando percebo aleatoriamente a música troca para uma outra batida, outro estilo, agora um pouco mais agitada, um riso frouxo salta da minha face, fico balançando a cabeça indignado, afinal eu sei bem oque aquela música me faz lembrar, mas justo agora? Chorei por 3 horas seguidas, seria loucura demais simplesmente começar a sorrir enquanto penso essas besteiras sexuais, não há oque temer, loucura simplesmente seria impossível, bom, eu poderia um dia sim ficar louco, mas hoje, não, hoje estou lúcido, loucos fazem loucuras eu somente penso nelas. Pensando comigo mesmo.

Quem sonha de dia tem consciência de muitas coisas que escapam a quem sonha só de noite. Edgar Allan Poe, você está certo, apesar de morto há tantos anos, cá estou eu, indagando até que ponto você pensava como eu, não sei definitivamente quando comecei a questionar sobre mim, mas nessa madrugada tão fria pensei tanto sobre tantas coisas. Cheguei no limite, digo isso frequentemente mas dessa vez é real, assim como tudo neste quarto, a parede é real, esse espelho, o chão e meus pés descalços, tudo real, oque eu quero dizer com isso? Você conseguiria me entender?

Começo então meu autoconhecimento, olhando atentamente meus olhos, como pode um espelho refletir mais-não somente o físico- mas a alma, "Se a morte fosse mesmo o fim de tudo, seria isso um ótimo negócio para os perversos, pois ao morrer teriam canceladas todas as maldades, não apenas do seu corpo mas também de sua alma." (Sócrates). Por um instante esqueço quem sou, penso em quem poderia ter sido, afinal se a morte não for mesmo "o fim" porque então chorei tanto por algo "banal" quanto a esta vida- talvez número 999? _rsrs. Quem sabe esta dor sejam impulsos normais, me permito senti-la, pisco os olhos que doem, uma lágrima tosca e sem motivo escorre em minha face, coloco a mão no espelho, deslizo os dedos rapidamente, balanço a cabeça e tentando não desviar o olhar dos meus olhos-até parece por um instante que meu próprio reflexo vai se enganar quanto aos comandos- igual aquela brincadeira que brinquei uma certa vez, alguém na sua frente tenta imitar todas as suas ações e você faz de tudo para que a outra pessoa erre, certamente ela irá errar uma hora, não estamos programados para acertar sempre. Mas me engano, nunca erro, meu reflexo sempre sabe oque vou fazer em seguida, dou uma gargalhada ingênua-loucura, loucura- mas não me custou nada tentar, será que mais alguém tem audácia a pensar como eu? A agir como eu? questiono, retirando o fone do ouvido.

Lembro que sempre fui assim, sento na cama, estico as pernas, aperto forte o fêmur, puxo a pele que se estica-minha pele sempre tão elástica-tantos lugares que já andei, muitos outros que gostaria de conhecer, enquanto suavemente enfincando as unhas em meus joelhos, quase que sinto o gosto da bebida forte, minhas pernas doíam tanto aquele dia, sentado no estacionamento, terminando a garrafa de vodka, rindo alto, sem escrúpulos, vida iniciando, pouca idade, muitos "amigos" e também muita rebeldia, levanto da cama, indo até o banheiro, abro a torneira, lavo as mãos, jogo água em meu rosto-acho engraçado essa necessidade de sempre lavar as mãos antes de lavar o rosto, higiene ou "ToC" rsrs- não enxugo com a toalha pendurada na parede, apenas olho por alguns segundos para ela mas hesito, ando até o quarto novamente, algumas gostas caem no chão, deito na cama, fecho os olhos, uma gosta escorre em meus ouvidos, consigo sentir de novo, aquela chuva, deitado na rua, chuva doída, forte, machucando meu rosto não só a chuva doía mas aquele choro profundo, motivo já não lembro, mas da crise, com certeza. Rua escura, chuva forte, vento gelado, celular embrulhado numa sacolinha de supermercado- afinal eu sempre fui precavido, não deixava de tomar chuva- mas com certeza sempre tinha uma sacolinha, uma garrafa da água congelada e um trocado em moedas, sempre em moedas. Abro meus olhos sorrio lentamente, achando sempre engraçado esse drama que fiz da vida, talvez por isso escrevo, por isso sempre escreverei.

Autoconhecimento, seja como for é uma mistura de sensações, do que foi, do que é, do que pode ser, mas eu creio que principalmente é sobre a realidade, pouco importa sua idade, físico, ou loucura-rsrs- deve entender que todos estamos aqui sem motivo, surgi por causa de alguém de mil anos atrás ? Sou um fardo passado? Sou quem irá salvar minha alma falida? -Eu sei lá- prefiro pensar que não há nenhum motivo, apesar do meu ceticismo, sou suspeito em dizer de algo que não entendo, afinal quem sou eu para dizer-ninguém aparentemente- que alguma coisa ou algo não criou este universo?

Não precisa pensar como eu-prefiro até que não pense- mas trate de se conhecer. Autoconhecimento.

Bauer CorvoWhere stories live. Discover now