Contos da dor ao amor

Essa noite

De fato estou excitado, os ruídos da porta de madeira fazem do meu coração já disparado, baterem cada vez mais rápido, o vento forte que entra pela fresta da janela do cômodo ao lado, assobiando, neste silêncio de vozes humanas, estou com frio, minhas mãos soam gelado, minha face avermelhada, o vinho tinto derramado no tapete em minha frente, estou olhando fixamente para o pequeno raio de luz do poste da rua, aparecendo e desaparecendo, enquanto as cortinas se mexem suavemente por causa do vento que as balança, os cacos de vidros no chão, o buraco na janela, sentindo minha costa arder, meu corpo pesado, cansado, levanto e caminho até a sala, tentando entender oque havia acabado de acontecer, as luzes todas apagadas-ainda bem que essa noite está clara- olho pela janela e admiro a lua tão grande, tão linda, caminho lentamente pela casa, respiro e inspiro, o quadro pendurado no corredor me amedronta, estes olhos famintos, essas assas desgastadas-um corvo realmente é assustador-ouvindo este assobio estúpido, fico irritado e vou até a janela e a abro, o vento gelado bate em meu rosto, estou arrepiado-uma sensação prazerosa- fico mais relaxado, minha angustia se esvai pelos meus poros, tento me convencer que o sol já vai nascer, mas são apenas meia noite -o relógio da cozinha tic,tac- tudo me vem na lembrança, aquele sentimento amargo, que me adoça a boca, as cordas na sala, os gritos e bem brevemente recordo daquele olhar, não é atoa que me olhe assim, o medo estava em você, mas as marcas estão em mim, depois de um tempo começou a se empolgar, toda sua fúria transformada, toda sua tristeza, se foi, eu já sabia que você escondia muito mais coisas dentro de ti que jamais demonstrou, esta bebida forte não te satisfez em longos anos igual a sua satisfação nesta noite, meu coração volta a palpitar, minha boca seca, sedento querendo mais, clamando por mais, tão breve, essas poucas horas que você esteve aqui não foram suficiente -sorrio- limpo a mancha do tapete, recolho depois os cacos do chão, dou outra risada, só que essa com um tom mais engraçado, afinal você veio pra cima de mim com tanta raiva das minhas provocações que não percebeu o cristal em cima da cômoda ao lado da janela, já viu o estrago que você fez? Deixe que eu já estou limpando a sujeira, mas o pior são estas marcas em meu pescoço, nas minhas costas, juro, das vezes que te olhei em nenhuma circunstancia pensei que seria capaz de fazer isso, mas oque mas me surpreendeu é que não demonstrou nenhum remorso e por três vezes implorei para que parasse, como isso? -sinto um frio na barriga- sorrio lentamente, suspiro e sussurro baixinho seu nome, volte, faça de novo, estou a sua mercê.

Conto/ fantasia 

2021

Bauer/love